(De: Saúde mental na pandemia – 74)
Este texto, diferentemente dos anteriores, têm como objetivo, dividir um sonho muito agradável, inspirador (e, quem sabe, profético), que tive há uns 4 dias.
Pode parecer estranho uma terapeuta compartilhar um sonho.
Será íntimo demais ou “fora do lugar”?
Não.
Não sendo esta uma situação de terapia, eu poderia perfeitamente ser uma advogada, dentista ou escultora escrevendo.
E então seria simplesmente um ser humano se comunicando com outras pessoas que estivessem lendo este texto…
Sonhei que estava em um lugar parecido com uma livraria, lugar de estudos ou palestras e, do outro lado da rua, havia uma doceria, que produzia tortas e doces cheirosos, deliciosos, e muito bonitos e havia gente que circulava de um lugar para o outro. Eram tanto pessoas que fazem parte da minha realidade atual, quanto outras já falecidas mas, o ponto mais forte foi o afeto. As pessoas entravam em um e outro lugar, se abraçavam e diziam: “Que bom te ver! Estava com saudades de você!”. E somente se abraçavam com carinho. Sem drama, sem tristezas. Afeto, doçura e beleza. Nenhuma menção à Covid, perdas ou à tragédia real que estamos atravessando há tanto tempo.
Alguns poderão pensar: Negação? Evitação?
Claro que não! Impossível ignorar a realidade ou minimizá-la. O que me veio à mente foi que: aquilo que de verdade importa e nos ajuda a lidar com as dificuldades, é a universalidade do afeto; o que cada pessoa significa para nós.
As alterações e inseguranças dos tempos de pandemia- Quando voltaremos ao normal? Será que não voltaremos? (Ou será que já voltamos e só eu é que ainda não percebi ???), têm nos causado vivências, sentimentos e pensamentos estranhos e isto faz sentido, mas temos que trabalhar e dar conta dos problemas do dia a dia, então vamos levando.
Porém à noite quando dormimos, a “porteira” do inconsciente se abre e os conteúdos “passeiam” livremente.
Aquilo que nos assusta, o que sentimos falta, questões não resolvidas; misturas de experiências, expectativas, fantasias e “restos diurnos”- definição de Freud para o que aprendemos e passamos ao longo do dia anterior, seja prosaico ou até mais subjetivo, é liberado durante o sono e sonho.
Recentemente ouvi uma definição interessante de um professor para o sonho: seria a “vingança” do seu inconsciente. Tudo aquilo que varremos para debaixo do tapete (porque era difícil de lidar), vêm à tona.
Ou seja, o pobrezinho do seu inconsciente (com seus medos, dificuldades, questões mais complexas e até mesmo esperanças e alegrias que não podemos expressar), que passou o dia todo sendo “engarrafado”, se vê liberado da censura. Você dorme, e ele diz: “Oba ! Hora de sair da prisão !”.
E então temos sonhos estranhissimos, positivos, pesadelos. (Parece justo; não se reprime conteúdos tão importantes impunemente, certo ???)
Desde os tempos bíblicos, sonhos têm sido importante fonte de informação, de interpretação, de estudos em várias áreas, e farto material para os psis, naturalmente…
A partir do início da Pandemia, primeiros meses do ano de 2020, alguns estudiosos se debruçaram sobre os sonhos e formaram grupos de estudos sobre eles e seguem pesquisando.
Com o quê estamos sonhando? Qual é o “material/assunto/tema”? Qual está sendo o impacto da Pandemia em nossos sonhos? O que emerge de nosso inconsciente quando relaxamos e baixamos a guarda?
No futuro, teremos acesso aos resultados, conclusões e, certamente, teremos mais perguntas do que respostas, como frequentemente ocorre com aspectos subjetivos. São fontes de questionamentos. É, aliás, de uma tremenda sabedoria entender que aquilo que nos levou à frente, nos fez avançar e progredir em todos os campos, foram primeiramente as perguntas.
Voltando ao meu agradável sonho e pensando de maneira mais ampla, me parece possibilidade futura próxima, desejo e esperança e, como diz um imã de geladeira (meio cafona, admito) adquirido há anos “Good vibes.”
Com (e apesar) da realidade. Simples assim.