(De: Saúde mental na pandemia – 58)
Precisamos de pouco para sobreviver: saúde, alimentação, hidratação e abrigo, mesmo em niveis mínimos.
Pessoas hospitalizadas, com aparelhos suprindo temporariamente suas funções básicas podem se recuperar.
Indivíduos submetidos a privações em situações extremas: guerras, encarceramento, isolamento abrupto, também podem se manter por um tempo.
Alguém sofre acidente grave, desastre natural, aprisionamento desumano e, independente ter de sequelas físicas ou emocionais, sai vivo.
A sobrevivência pode eventualmente depender de sorte e do nosso cuidado e comportamento.
Há relatos de pessoas que se salvaram por acaso- um telhado que desabou a centímetros de onde estavam, ou por estarem em velocidade baixa no momento de um acidente.
O ser humano é tremendamente adaptável e resiliente: há gente vivendo em lugares extremamente frios, quentes ou hostis. A criatividade e raciocínio ajudam e o organismo desenvolve mecanismos de regulação.
Porém, quando pensamos em vida de maneira mais ampla, incluímos ambições, desejos pessoais e necessidades mais subjetivas.
Estudos, ascensão profissional, intelectual, cultural, social. Vida afetiva, ter amigos, constituir família, viajar, falar idiomas e também, o mais complexo e ambicioso de todos: ser feliz.
Há estudos em Psicologia que tratam de escalas de prioridades- necessidades básicas na base e desejos progressivos nos níveis superiores.
Embora existam controvérsias sobre estas teorias, é fácil entender que há condições indispensáveis: estarmos vivos, com saúde, condições financeiras para moradia, alimentação e manutenção das necessidades básicas.
Tendo estes pontos resolvidos, poderemos pensar e agir na direção de quaisquer projetos, objetivos, aspirações e vontades.
Não é possível pensar em fazer um curso de aprimoramento profissional ou pessoal, uma viagem incrível, casar, se você não tem onde morar, ou se está impedido por condições de saúde.
Desde a irrupção da Covid, tivemos uma mudança radical da realidade e a vida de todos se transformou- do geral ao particular, do macro ao individual.
Tudo foi abalado; dos pontos mais cruciais como saúde, economia e relacionamentos, até os mínimos detalhes da rotina: rituais para sair de casa, higienização, protocolos sanitários.
Inicialmente ficamos em suspenso: voltaremos logo!
Depois em suspensão: vai demorar!
E então em suspense: quando voltaremos de maneira normal?
Sem respostas ou perspectivas.
A ameaça pairou sobre cada um de nós. Assustadoramente, e inicialmente, sem perspectivas a médio prazo.
Alguns tiveram que pensar em alternativas para sobreviver pois sua estrutura ruiu. Para outros, a subsistência imediata correu menos riscos e para uma parcela ínfima, a sobrevivência econômica se manteve garantida.
São diferenças abissais e inquestionáveis, mas há 2 pontos para todos: o medo de adoecer gravemente e a necessidade de manter alguma normalidade.
Viver enquanto se sobrevive.
Ótimo! E como se faz isso?? Aqui vão sugestões simples e possíveis.
• Cuidados com a saúde: sono, alimentação e exercícios fisicos de seu agrado (do contrário, zero chance de continuidade).
• Manutenção de rotina: ter horários, ainda que mais flexíveis, separando momentos de trabalho, estudo e lazer. Dias de semana e fins de semana demarcados. Tempo para tarefas e também para relaxar.
• Tratar amorosamente de si mesmo e dos familiares. Ter mais auto compaixão e empatia; está difícil e instável para você e para os outros.
• Cuidar de sua aparência. Não se trata de rigores estéticos ou futilidade, mas de bem estar. (Já estamos um tanto esmaecidos, boa parte com cabelos sem corte e algum peso a mais. Não parece bom para nossa auto estima acrescentar roupas manchadas, furadas ou feias demais ao “look”.)
• Manter contato com seus amigos, buscar conexões que te façam bem.
• Procurar atividades prazerosas: leitura, filmes, séries, cursos online, trabalhos manuais.
• Tornar seu ambiente físico um lugar agradável e de acolhimento.
• Fazer planos para o futuro. Pensar no que deseja fazer, mudar, construir, seja o que for e quando puder acontecer. Projetos animam e motivam.
A alegria de pequenos gestos, reconhecimento das pessoas e coisas boas em nossas vidas são importantes manifestações de felicidade.
Se trata de manter a saúde física e mental em dia, os pés no chão, anseios no alto e o olhar no horizonte sonhado e visível.