(De: Saúde mental na pandemia – 65)
A sensação de sufocamento e mal estar físico nos fazem pensar em um grande mal ou mesmo na morte, o que provoca desespero.
Vamos para o hospital pensando no pior e só nos tranquilizamos depois de exames claros e objetivos demonstrarem que não há alterações. É nesta hora que o médico diz: “Seus exames estão bons. Isto foi uma crise de ansiedade”.
E então você fica aliviada por um lado, e impressionada por outro: como uma manifestação emocional pode me fazer ter certeza que estou enfartando ou morrendo ?!?
Quando isto não volta a se repetir, entendemos como algo pontual, ocorrido em um momento difícil de nossas vidas. Porém, o registro tão tenebroso pode eventualmente provocar medo de que aconteça novamente- afinal, surgiu “do nada” e foi embora do mesmo jeito, então como saber que não voltará?
Assim, pode se instalar um transtorno de pânico: o temor de vivenciar a mesma coisa em qualquer outro momento. E até mudamos rotina, hábitos e comportamentos para evitar novos ataques.
É o medo do medo, que pode levar a uma espiral de preocupação e antecipação excessivas, trazendo grandes limitações.
Somos um país de ansiosos- o número 2 ou 3 na estatística. Grandes consumidores de ansiolíticos, mesmo sendo tão leves, alegres e amistosos. Estranho, não ??
Sim, mas assim somos nós:
Contraditórios e imperfeitos.
Alto astral e aflitos.
Simpáticos e apavorados.
Boa onda e ansiosos.
(A título de informação, este é um transtorno que atinge mais mulheres do que homens, segundo estatísticas.)
A Síndrome (ou Transtorno) do pânico pode provocar sensações físicas tão concretas e fortes que assustam.
São crises súbitas, agudas e recorrentes de ansiedade, acompanhadas de sintomas fisicos e desconfortos sem motivo aparente na maioria das vezes.
Momentos breves de mal estar físico junto com medo, angústia e ansiedade.
Falta de ar, dor (ou aperto) no peito, sensação de engasgo, elevação dos batimentos cardíacos, palpitação, suor, vertigem, tremedeira, calafrios, fraqueza, náusea, medo de morrer, enlouquecer, perder o controle. Sintomas físicos variados, mas intensos e assustadores e só nos acalmamos quando passam e também ao ter a confirmação que estamos bem.
Crises de ansiedade e ataques de pânico muito fortes são tão potentes que confundem. Médicos dizem que as sensações físicas são semelhantes às de sérios problemas físicos, portanto, não podemos menosprezá-los.
Se são tão parecidos com outros males que exigem atuação e intervenção imediatas, quem vai garantir que “é emocional e vai passar em 30 ou 40 minutos”?
Jamais devemos deixar de lado manifestações físicas; são nossos alarmes de que algo não vai bem e deve ser visto e tratado- seja físico ou emocional.
A primeira providência é descartar questões fisiológicas que são concretas e objetivas. Se temos um problema desta ordem, há medidas a serem tomadas; ações e tratamentos.
Se o caso é de ordem psíquica ou emocional- de fato uma crise de ansiedade, precisamos entender que se trata de algo subjetivo, tendo em sua base o medo.
Pensando de maneira simples e linear: sentimos muito medo-por ameaças claras ou mais obscuras. Isto nos causa ansiedade, e quando esta ansiedade se torna excessiva e transborda, podemos entrar em crise. E a própria crise nos deixa ainda mais ansiosos e com medo que voltem a acontecer. Temos então um terreno fértil para a síndrome do pânico…
A boa notícia é que existe tratamento. O diagnóstico feito por especialistas, nos situa e orienta na direção da solução. Terapia e medicação (quando necessário) e atividades terapêuticas, interrompem este ciclo de sofrimento e evitação.
Partimos para certas questões: o que nos perturba, aflige, ameaça? Quais são os gatilhos? Como podemos abordar estes problemas?
Houve grande aumento de crises de ansiedade desde o início da pandemia. Aliás, todos os transtornos tiveram crescimento, o que faz sentido em tempos como os atuais.
Temos problemas objetivos, bem como medo, incertezas e inseguranças. Muita instabilidade e mudanças, portanto, nada mais natural do que sermos assaltados por ansiedade e temores mais difusos.
Este é um dado (por incrível que pareça), tranquilizador e normativo: estamos todos, maior ou menor grau, “fora da casinha” e isto é consonante com o momento.
No âmbito da saúde mental, reações a problemas concretos, ainda que pareçam diferentes ou estranhas, são entendidas como saudáveis, de acordo com o que está realmente acontecendo.
E o contrário: “Tudo ótimo” com você enquanto o mundo se despedaça lá fora, ou você se sentir “super feliz” com tantos mortos, doentes e desvalidos à sua volta e mundo afora seria preocupante, uma dissociação da realidade.