COMPULSÃO X EXAGERO
COMPULSÃO
A compulsão pode ser definida como: vício, adicção, dependência, ímpeto, necessidade.
E os comportamentos compulsivos basicamente como: imposições internas que levam à ações repetitivas e irrefreaveis para reduzir o desconforto psíquico causado pela ansiedade, ameaça ou tristeza que determinados pensamentos e crenças provocam.
De maneira simplificada, podemos entender a compulsão e sua dinâmica como circulares- o que vem à mente nos causa medo, instabilidade e insegurança, e então os diminuímos (ou supostamente eliminamos) com ações ou comportamentos repetitivos.
Somos impelidos a realizar um ato ou ritual que gera alívio e satisfação inicialmente.
A percepção psíquica, química, cerebral (e muitas vezes consciente) da gratificação emocional ou diminuição do desconforto nos leva a repetir o comportamento.
Conforme vamos repetindo a experiência, desenvolvemos maior tolerância e dependência das substâncias ou dos próprios comportamentos compulsivos, que passam a ser mais fortes e/ou frequentes.
Com o tempo e a repetição, essas compulsões geram raiva, frustração, mal estar e culpa (por não terem sido evitadas) e prejuízos em vários aspectos.
De maneira negativa.
Em um círculo vicioso, onde um ponto encaminha para o seguinte e o reforça.
Compulsões e comportamentos compulsivos na dependência de álcool, drogas, jogo, sexo e compras vem sendo descritos frequentemente.
Existem outras condições em que também estão presentes como nos Transtornos Alimentares e no Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) onde há rituais de limpeza, ordenação, contagem, repetição, evitação, etc.
São impulsos para trazer alívio imediato, afastar as ameaças e eliminar ansiedades e desconfortos, mas que trazem também mal estar, culpa e raiva de forma repetitiva e muito sofrida.
As condições descritas acima são mais sérias, variam em gravidade e intensidade e necessitam de ajuda profissional.
Felizmente, há muitos estudos e possibilidades de tratamento nessa área.
EXAGERO
Agora, precisamos estabelecer a diferença entre compulsão e exagero.
O primeiro foi brevemente descrito acima e o segundo é aquilo que fazemos “a mais”.
Por exemplo: mantemos uma alimentação saudável e regrada durante a semana e nos permitimos certas mudanças no fim de semana, quando podemos beber socialmente, comer um doce, ficar um tempo a mais nas redes, fazer algo que nos dê prazer.
Este equilíbrio é importante para a manutenção da saúde física e mental.
Quando existe uma proibição (que não seja imposta por alguma doença ou condição de saúde) e não nos permitimos “nada” ou “nunca” corremos o risco de acabar no outro extremo, onde podemos “tudo” ou “o tempo todo”.
Às vezes cometemos exageros, temos total noção de que passamos do nosso ponto e entendemos que não seguiremos assim ao longo do mesmo dia ou semana.
Voltaremos ao nosso regrado de antes e, tudo certo.
Mas, e nesse momento? E agora que a nossa rotina foi alterada ou até suprimida?
Se não estamos trabalhando nem estudando, a 4af se parece com o Sábado que, por sua vez, não difere de uma 5af…
E isto, junto com o medo pela saúde e economia, pode nos tornar vulneráveis a tornar o exagero a regra e não a exceção.
Se não temos compromissos, horários ou trabalho e, ainda por cima, estamos isolados do contato social, qual é o parâmetro?
O que nos regula?
Podemos fazer o que quisermos, quanto e quando der vontade?
Não.
Não podemos porque, ainda que isso nos proporcione um prazer imediato, a conta virá em seguida, de forma análoga às compulsões descritas anteriormente.
A falta de auto cuidado com a saúde física nos desregula o funcionamento corporal e, na sequência, prejudica nossa saúde mental.
Após um dia inteiro de comida de má qualidade e em excesso, por exemplo, nos sentiremos mal fisicamente- enjoados, com o intestino travado, irritados, etc- e com uma tremenda ressaca moral porque sabemos que fomos nós que fizemos a bobagem…
Isso não eliminará a pandemia e nós ainda estaremos nos sentindo mal, orgânica e moralmente.
Isso não quer dizer que seremos rígidos 24×7, como se estivéssemos vivendo a rotina de antes porque isto seria negar a realidade, mas somente estarmos atentos.
Quando estamos conscientes da instabilidade lá de fora e da nossa própria e reconhecemos nossas vulnerabilidades, ansiedades e temores, podemos acolher esses estados e flexibilizar.
Ok. Desta vez, bebi ou comi um pouco a mais. Não li, não fiz exercício ou não estudei mas, retomarei em seguida.
Palavras-chave aqui: “dessa vez”, “um pouco” e “retomarei”.