ANSIEDADE
(Antes de mais nada, gostaria de dizer que escrever sobre esse tópico tão importante nesse momento me deixou ansiosa porque há muito a dizer. Pode soar engraçado e até seria, se não fosse tão real…)
Podemos definir rapidamente a ansiedade como: desconforto psíquico e físico, agonia, medo, aflição, angústia, ausência de tranquilidade, sofrimento, expectativa de que algo inesperado (e assustador) aconteça.
Ocorre também em situações positivas. Assim, entendemos que a ansiedade até poderia ser usada a nosso favor como um impulso, motivação ou estímulo: …“ansiosa para começar a estudar o que tanto queria…”
Nesse caso de ansiedade benéfica, está tudo certo; é um motor para que avancemos na direção que desejamos.
Porém, ela costuma nos causar incômodo, mal estar e até transtornos maiores e mais intensos. Está ligada acima de tudo ao medo, preocupações e tensões exagerados e, com muita frequência, à uma antecipação negativa de eventos ou situações no futuro.
Podemos separar os dois: medo e ansiedade.
O medo como uma resposta a uma ameaça externa e frequentemente identificável- medo de um carro desgovernado vindo em nossa direção, por exemplo.
Informação interessante aqui: o medo é primitivo. Foi ele que resguardou nossos antepassados e nos permitiu chegar até aqui. O homem das cavernas “medroso” que estudava o entorno antes de sair para caçar, sobrevivia.
Já a ansiedade é um estado emocional mais subjetivo, por vezes bastante desconfortável e perturbador.
Vivemos em uma sociedade tremendamente ansiogênica– estamos sempre muito ocupados, pressionados, exigidos, confrontados, comparados em um mundo hiper conectado que funciona 24×7. São enormes exigências de alta performance em todos os aspectos.
Tarefas, pendências e trabalhos levados para casa, além do próprio horário no trabalho. Podemos ser acessados em qualquer hora e lugar. Whatsapps, emails e outras comunicações nos alcançam em praticamente qualquer ponto do mundo.
Emendamos o trabalho e atividades diversas, cumprindo uma rotina extensa para, de volta à casa, ainda encarar mais atividades, assuntos de família e pessoais.
Há crianças que tem “agenda de executivo”- colégio, aulas extras, de idiomas e atividades físicas, além dos trabalhos exigidos pelas próprias escolas e então entendemos que estão sendo “bem preparadas para o mundo competitivo”.
Somos crianças, jovens e adultos tremendamente ocupados. E ansiosos.
Socialmente a pressão também é grande. A rede social, invenção maravilhosa, trouxe também consequências.
Temos hoje o FOMO -do inglês Fear Of Missing Out- que é a constante sensação ou medo de estar perdendo algo. Estou aqui mas deveria estar ali ou acolá porque os outros estão e me vejo de fora.
Temos que: estar atualizados em nossos trabalhos, saber o que acontece aqui e no mundo, praticar atividades físicas, ter alimentação saudável, o corpo, cabelo e look da moda, boa performance social e sexual, ser experts em relacionamentos e educação dos filhos e ainda dormir bem porque já está provado ser indispensável à saúde.
Só isso…
Lista extensa e comparação intensa com nossos pares. E o nível de ansiedade só vai subindo.
Hoje temos um aumento exponencial da ansiedade entre jovens e até crianças, que estão sendo frequentemente medicados.
Funcionamento ansiogênico tratado com ansiolíticos.
E agora temos uma pandemia que nos trouxe também um paradoxo: nós, que corriamos tanto, paramos. Nossa cidade, país, e parte do mundo, parou.
Após 5 semanas de isolamento aqui no Rio de Janeiro, podemos observar dois pólos: pessoas ainda mais ansiosas e outras relatando menos ansiedade exatamente por terem parado.
Com certeza estamos todos preocupados e temerosos pelo futuro, mas podemos lidar com isso de várias maneiras.
Há os que dizem não estar “conseguindo fazer nada”. Começam uma atividade, a interrompem porque lembram de outra mais importante e esta também é parada porque surgiu outra ideia. Nisso o dia passa e a pessoa não conseguiu completar nada. Mais ansiedade…
E há os que, encarando a realidade como para hoje, aqui e agora, se adaptam à uma nova dinâmica e rotina, passando a sentir tranquilidade. Diminuindo a pressão, sentem menos ansiedade.
Estes relatam benefícios em conviver mais com a família, descobrir gostos e interesses e alívio de não poder mais correr tanto, ainda que sintam alguma(s) falta(s).
E óbvio que, quanto melhor for a situação- de saúde física e mental, financeira e social, maior também será a possibilidade de lidar com essa realidade.
Mesmo assim, há pessoas isoladas e com todo o conforto possível que estão vivendo um inferno dentro de si mesmas e nas relações com os outros.
Entendendo que, por ser real, não devemos esperar estar em um OU outro extremo, mas em um E outro pólo. Podemos oscilar. E então haverá momentos de muita ansiedade e paralisia e outros de tranquilidade e relaxamento.
É isso é saudável porque é real, está em consonância com o momento atual.