REPERTÓRIO
Palavra mais conhecida por definir coletâneas: o repertório do cantor, músico, comediante. Proficiência alcançada através de estudo, treinamento, execução e repetição.
Habilidades e competências.
Ampliando o entendimento do termo, poderemos aumentá-lo em diversas áreas.
• Repertório artístico
O cantor tem determinadas músicas em seu repertório. Já as executou inúmeras vezes, aperfeiçoando e eventualmente até modificando os arranjos originais.
O ator, artista plástico, desenhista, dançarino, comediante, diretor, tem seu conjunto de experiências, habilidades e currículo.
A partir da pandemia e isolamento, as restrições foram enormes. Impossível encenar um espetáculo, peça ou show para uma platéia. Exibições de arte foram canceladas. Novelas interrompidas.
E agora ???
Após certo tempo, as artes se adaptaram: monólogos feitos em casa, em teatros vazios ou peças com atores em suas próprias casas, encenando e transmitindo pela internet.
Séries foram criadas neste período de maneira alternativa- atores em suas próprias casas, sendo dirigidos à distância.
Exibições, shows e tours virtuais.
Houve inclusive quem “estourou”. Viralizou, tornou-se conhecido ou ainda mais famoso.
Adaptação, aprendizado e uso da tecnologia para os novos tempos. Artistas e equipes técnicas que puderam se manter e levar ao público a alegria, cultura e criatividade que a arte promove.
• Repertório educacional/profissional
Em Março, houve a decretação de isolamento.
Alguns tiveram ocupações e estudos rapidamente mantidos, adaptados às mudanças impostas pelas restrições.
Outros foram demitidos e precisaram “se virar”. Interromperam estudos ou mudaram de trabalho, criando alternativas para seguir pagando as contas.
E, para alguns, houve parada temporária seguida de um retorno.
Novamente, particularidades e oportunidades de cada um.
Após alguns meses, entramos em fases de flexibilização com aberturas parciais, protocolos e sistemas híbridos.
De qualquer forma, não se normalizou integralmente para nenhum de nós. Dinâmica, rotina e horários se alteraram, ainda que no mesmo trabalho ou estudo de antes.
Certos indivíduos passaram inclusive a ter jornadas mais longas, somadas à eventuais (e novas) ocupações: tarefas domésticas, ajuda aos filhos nos estudos à distância, auxílio à parentes ou amigos.
Entretanto, mesmo com maiores ou diferentes exigências, passamos a ter mais tempo, já que nas grandes cidades, os deslocamentos podem ser longos, lentos (e, definitivamente, estressantes).
Horas no trânsito podem ocasionalmente proporcionar ideias ou epifanias interessantes mas, na maioria dos casos são tempo, saúde e recursos perdidos.
Só isso.
Com o surgimento de tantos cursos, workshops, formações, lives online em todas as áreas- muitas gratuitas ou com custo reduzido, vieram oportunidades:
Estudar o que se precisava (ou simplesmente queria). Ler. Adquirir mais conhecimento sobre assuntos ligados ao trabalho já exercido ou aspirado. Participar de grupos de estudo, discussão, cursos. Aprender mais. Se preparar.
Independente do otimismo ou pessimismo de cada um, ter saúde física, mental e mais conhecimento e experiência será de inquestionável ajuda para lidar com seja o que vier a acontecer.
Não podemos prever nem controlar o futuro, mas se estivermos bem preparados, o enfrentaremos melhor.
Não controlamos muitas coisas.
De verdade, não podemos controlar nada além do nosso próprio comportamento.
Fazendo o que alcançamos teremos mais chances de terminar esse surreal período mais saudáveis, resilientes, sabidos e espertos, aumentando nosso “acervo” educativo e laboral.
• Repertório relacional/sócio afetivo
Vejo da minha janela, um grupo de adolescentes que agora passou a se reunir frequentemente no play vizinho nas tardes de Sábado. Devem ter entre 12 e 16 anos.
Meninos e meninas que jogam bola, correm e conversam.
Os observo e meus pensamentos se repetem: É lógico que cada um têm suas ocupações, estudos. 99% deles na Internet para fins de estudo e sociais. E, certamente estão sofrendo com tantas restrições.
Mas….
Estão aqui jogando, conversando, correndo pra lá e pra cá (há energia estocada, engarrafada) mas, sobretudo interagindo em ambiente real, olhos nos olhos.
Estariam interagindo assim se não estivéssemos em pandemia? Ou estariam (até juntos) em qualquer lugar fechado, cada um ocupado com seu próprio celular?
Já faz tempo que muitos de nós- adultos, jovens e crianças, nos relacionamos com e através de máquinas.
Quantas vezes já ouvimos sobre (ou mesmo experimentamos) a facilidade de enfrentar ambientes e situações mais constrangedoras com tranquilidade, só por ter um celular.
Vamos sozinhos à uma festa/reunião/evento onde conhecemos pouca gente (que, é claro, demora uma vida para nos resgatar). Dá nervoso?
Não !! De celular em punho, estamos ocupados e acompanhados.
Também nos distraimos- individualmente com nossos contatos virtuais- mesmo quando reunidos com os reais.
Atualmente passamos a valorizar e aproveitar cada encontro.
Mesmo nos encontros via rede, percebemos maior atenção de quem está ali.
Estou literalmente sozinho em isolamento ou interagindo com os mesmos há meses e então amigos marcam um Zoom para conversar, comemorar um aniversário, etc. É claro que estarei ali 100% !!
A escassez aumenta o reconhecimento e valorização…
Há pessoas que relatam sentir agora mais vontade e disponibilidade de estar com os outros (de forma real ou virtual).
Nessa longa ausência, podem surgir novas compreensões e prioridades, aumentando nosso repertório e competência social e afetiva.
E assim, em meio à tantas dificuldades e mudanças, aprendemos novas habilidades, disposições e até talentos interativos.
O ser humano é fascinante…