RESPIRAÇÃO
Interessante observar como a cada tanto, certas palavras, frases ou ditados passam a ser usados e repetidos por muitas pessoas.
Alguns são “modismos” de linguagem que passam. Como gírias que depois de anos soam estranhas ou engraçadas.
Outras acabam sendo incorporadas e permanecem.
Agora, falamos todos de respiração:
“Respira e não pira”
“Conectar-se através da respiração”
Ou como vemos em inglês mesmo:
“Take a deep breath”
“Keep calm and breathe”.
Sendo função automática e involuntária, é curioso que nos sugiram “respirar”, como se isso fosse uma decisão.
Não dizemos ao sistema respiratório para inalar e exalar, ao gástrico para digerir ou ao coração para bater. São funções autônomas e automáticas que nos mantém vivos.
Podemos prender a respiração por susto ou quando damos um mergulho, mas isso dura alguns segundos.
Não conseguimos comandar sistemas fisiológicos nem funções corporais racionalmente.
Para o bem e para o mal, nosso comando é restrito.
Entretanto existe comunicação, correlação e interação entre o funcionamento biológico, emocional, mental e o ambiente externo.
E aqui também, de forma positiva ou negativa:
Passamos férias em um lugar idílico e nos sentimos relaxados e felizes. O lugar é maravilhoso e não temos nenhum compromisso. Nos sentimos bem e só aproveitamos.
Porém, às vezes, estamos inquietos, imersos em pensamentos perturbadores e angustiados- por problemas concretos ou pelos nossos próprios conflitos internos.
Neste caso, nem a mais linda paisagem, atração turística, companhia ou comida maravilhosa nos tiram de nosso inferno particular.
Talvez já tenha passado por isto: você está em um lugar incrível, acompanhado por pessoas queridas ou em evento bacana, mas, não se sente bem emocionalmente…
O que temos em pensamentos, sentimentos e emoções interage com a realidade e o que vem de fora afeta nosso interior em uma “conversa” constante.
Em situação de perigo, respondemos dentro das 3 conhecidas possibilidades: luta, fuga ou congelamento. E, em qualquer uma das 3 a respiração se altera.
Na resposta de luta, o corpo todo se prepara: as pupilas se dilatam, o coração bate mais forte, o sangue flui para as extremidades.
Na fuga também há alterações fisiológicas para aumentar a capacidade de escapar da ameaça.
Nas 2 situações acima, a respiração se encurta para facilitar os movimentos. (Respirar profundamente antes de fugir ou lutar não seria uma recomendação muito útil…)
Quando congelamos, ficamos em suspensão, há paralisia física e impressão que não estamos respirando devido ao estado de choque.
Ansiedade, stress, conflitos e alterações emocionais são questões mais subjetivas, mas que também atuam de maneira circular em nossa fisiologia e, notadamente na respiração.
Quando aflitos, angustiados e transtornados respiramos “com o pescoço”, ou seja, na extensão do mesmo, de maneira curta, como dizem alguns terapeutas corporais.
Neste momento de tantas incertezas e alterações: concretas, sentidas e até imaginadas como previsões, é natural que a respiração fique prejudicada.
Afinal, é difícil inspirar profunda e calmamente se estivermos apavorados, ameaçados, ansiosos.
São estados de alerta e nossa fisiologia, pensamentos e sentimentos acompanham como corresponde.
A sensação de falta de ar (de fundo emocional) que muitos sentem nestes momentos de alta ansiedade, pode até se agravar agora, já que justamente a dificuldade de respirar é um dos principais sintomas, características e consequências do vírus.
Ao longo deste tempo, muitos relataram diversas alterações na respiração, momentos de pânico em que se sentiram sem ar e então tiveram a “certeza” de terem se infectado. Mas era medo, ameaça…
Desde o início da pandemia, houve um aumento tremendo de lives, cursos, aulas e vídeos ensinando, estimulando e trabalhando especificamente a respiração.
Uma profusão de aulas de Yoga, Meditação, Mindfulness e toda a sorte de técnicas tendo por base a respiração- estimulada e observada de forma contínua e consciente.
Podemos entender que a enorme oferta de tais atividades e procura do público é uma demonstração clara da necessidade de- exatamente nesse momento- focar no simples e básico ato de respirar.
Quando inspiramos e expiramos calma e profundamente, estamos comunicando fisiologicamente ao nosso cérebro e corpo que está tudo bem, sob controle.
Há aulas em grupos imensos, milhares de pessoas que se reúnem em um mesmo horário para meditar juntas. Coisa nunca vista antes.
Alguns inclusive em países diferentes, mas ao mesmo tempo, em horas combinadas.
Além de saudável e providencial, isto é espetacular !
O bem estar, energia e pertencimento que as pessoas sentem ali, focadas na sua saúde e fazendo isso junto com dezenas de milhares de outras, traz a conexão, parte essencial do (ser) humano.