RELAÇÕES
Neste momento de muito cansaço (mesmo havendo alguma flexibilização), gostaria de propor uma reflexão sobre as relações.
Sobre como lidamos com os relacionamentos que estabelecemos.
Aqui vão 3 pontos:
• Família
A sua está na mesma casa, junto com você? Em outra casa na mesma cidade? Muito distante em outro estado ou país?
Talvez estejam se encontrando ou apenas conversando de forma remota mas, o que este tempo tão longo provocou nas relações ? O que aconteceu entre vocês? O que o fez sentir em relação à sua família?
Maior proximidade? Falta dos familiares? Maior compreensão da importância que têm em sua vida?
Ou o oposto? Percepção de falta de interesse, vínculos frágeis, travas, distanciamento?
Não há regras, posto que cada família é única. O que realmente nos baliza e informa sobre a existência de disfunções é o nível de mal estar que sentimos.
Pode ser que sua família seja muito unida, amorosa, próxima e isto é otimo. Um tanto de sorte e também trabalho duro de todos. Como dito antes, o bom relacionamento demanda dedicação e empenho.
(Não, não acontece “naturalmente”. Há que se dedicar à tarefa. Sugiro desconfiar de soluções mágicas e rápidas. Nós, seres humanos, somos complexos mesmo…)
Seja como for, este é um bom momento para a avaliação e decisão. O que percebo, sinto e penso me agrada?
Caso positivo, ótimo! Certamente seguirá assim e o resto será logística em função da realidade- quando e como poderemos voltar a interagir normalmente.
Caso negativo, é um excelente momento para pensar no que queremos mudar e de que maneira podemos fazer isso.
• Trabalho
Se você se encontrava sem trabalhar desde antes da pandemia ou ficou sem trabalho em decorrência dela, este é um tempo de se reinventar, buscar uma ocupação que lhe garanta a sobrevivência agora se isto for imperativo.
E então, quando tudo voltar ao normal, pensar no que realmente lhe daria prazer.
Para muitos não se trata de buscar a satisfação profissional ou a felicidade, mas de sobreviver por ora. Uma urgência.
Caso seu trabalho tenha sido mantido à distância, com a segurança da subsistência, você tem a oportunidade de olhar de longe e avaliar:
Meu trabalho me satisfaz financeira e emocionalmente? Gostaria de exercer outra função, mais compatível com a minha natureza e temperamento?
Se suas conclusões forem positivas, ótimo. Se for o caso de alguns ajustes, eles poderão ser feitos futuramente. E, na hipótese de uma avaliação negativa, o tempo em suspenso lhe dá a oportunidade de planejar mudanças.
A “vantagem” de uma crise é: com tudo já tão bagunçado, podermos pensar de maneira mais livre.
Agora não mais a paz dos impotentes, mas a criatividade dos mesmos.
(Reconheço, caros leitores, que nós, psicólogos podemos ser muito irritantes, mas temos também essa função de levantar questionamentos…)
• Amizades
A esta altura dos acontecimentos, já nos organizamos socialmente também.
Nosso isolamento está “customizado”. Eu não vejo ninguém, fulano vê algumas pessoas que seleciona e beltrano encontra com quem, como e quanto quiser.
Tem sido um período de pertencimento, mas também de diferenças abissais entre as pessoas.
O 1° porque o adoecimenro é democrático, pode atingir qualquer pessoa e ninguém está “garantido”. (Embora no acesso ao tratamento, as diferenças sejam tristemente enormes…).
O 2° diz respeito à questões individuais: a realidade concreta e emocional de cada um. Estou ok mantendo o isolamento agora? Quero encontrar com um ou outro? Estou adoecendo emocionalmente com o distanciamento e não posso mais?
E, em adição ao “quanto” e “como”, temos o “quem”.
Quais são as pessoas que verdadeiramente nos fazem falta? Quem são os amigos com quem contamos e compartilhamos alegrias e tristezas? De quem sequer lembramos porque eram quase cenografia, parte das centenas de “amigos” de festas ou Facebook?
Novamente, o momento de crise tem o benefício de nos ajudar a separar o que, de fato importa, e o que é acessório, penduricalho. (Que podemos escolher manter, sim, desde que tenhamos consciência do que são).
O ponto mais importante e realista de todas estas reflexões é: não podemos mudar os outros, nem a existência da pandemia. Somos única e totalmente responsáveis pelo nosso próprio comportamento.
Porém, a partir da nossa mudança nas interações, haverá alguma chance de afetar as respostas dos outros de maneira sistêmica e também de nossa própria realidade, promovendo melhores relações em família, de trabalho e sociais.