PRIVAÇÃO (CARÊNCIA)
Precisamos de muito pouco para sobreviver: comida, sono e alguma imunidade física.
Entretanto, quando pensamos em vida no sentido mais amplo, o entendimento se inverte.
Desejamos e necessitamos de muito mais: família, amigos, bem estar, satisfação no trabalho, diversão, objetivos, etc.
Pensando nas 2 possibilidades: sobrevivência e vida almejada, na primeira bastam níveis básicos para a manutenção. No 2° caso, a lista é ilimitada.
Somos seres adaptáveis; há esquimós em locais gelados e populações que vivem em lugares muito quentes, deserticos. A espécie humana já sobreviveu à guerras, intempéries, tragédias naturais e inúmeras privações.
Em termos de carência, o risco é grande quando o básico está suprimido. Já a ausência do que precisamos para a realização plena traz consequências mais crônicas.
A falta de exposição ao sol causa deficiência de vitamina D e de fixação de cálcio, a de exercícios físicos, ganho de peso com repercussões fisiológicas ruins, a da movimentação regular no comércio atravanca a economia, etc.
A vida em sociedade é como um rio que deságua em cascata. Em período seco, haverá um fio de água. Em momento de abundância, o volume será farto.
Em casa podemos consumir o essencial e nada além. O restante ficará em estado de privação temporária.
Podemos passar sem compras de roupas, ida ao cinema e encontros com amigos, claro.
Porém, a médio e longo prazo, essas privações se fazem sentir…
Estamos fechando o 6° mês. Uns estão ok, outros nem tanto e alguns em grandes dificuldades.
Nos acostumamos e adaptamos rotinas para essa realidade, e então nos parece que estamos bem, mas, quando observamos nossas (hiper) reações, entendemos que não é exatamente assim…
Paradoxalmente, a adaptação pode ser inversamente proporcional aos seus efeitos. Estamos mais acostumados, porém também mais “pilhados”.
Os índices de ansiedade, depressão, consumo de psicotrópicos, álcool, alimentos calóricos e violência doméstica aumentaram muito.
O prolongamento da limitação de nossa interação com os outros e do confinamento, a falta de muitas atividades anteriores e da amplitude ao ar livre, somados ao convívio intenso com as mesmas pessoas podem provocar desânimo e irritabilidade.
O uso ininterrupto da tecnologia também pode se tornar exaustivo.
É nesse ponto que temos um grande desafio: percebendo (e acolhendo) esses estados, contrabalançar as privações com outras possibilidades.
Pode ser que você precise se desconectar de celular, computador e TV, buscar uma ocupação manual ou simplesmente se dedicar mais à atividades corporais de maior (ou até de menor) impacto.
A vida é dinâmica e assim somos nós também.
Até a semana passada era ótimo assistir a 3 lives e participar de alguns encontros via zoom no fim de semana.
Mas agora, tudo o que você deseja é ficar quietinho e longe de telas.
E daqui a 2 semanas, veremos…
Se estivermos atentos e auto conectados, será mais fácil identificar mudanças e reatividades e agir em consonância.
Guiados pela “bóia” de auto regulação, nosso termostato, vamos harmonizando as ocorrências lá de fora com as necessidades aqui de dentro.