PRIORIDADES
A mesma pergunta feita a pessoas de diferentes idades e estratos sociais, recebe diferentes respostas:
-Quais são suas prioridades na vida?
“Segurança. Passar mais tempo com as pessoas que realmente me importam. Mudar de endereço. Ter saúde. Viajar. Me divertir. Ser feliz. Ganhar o suficiente para manter minha família. Cuidar do meu corpo. Descobrir o que gostaria de fazer. Ser rico…”
Conheço um professor extremamente inteligente e interessante que diz não haver “prioridades”(no plural). Se você pensa em mais de uma, já não pode ser definida como prioridade.
Apesar de entender esse ponto de vista, acredito que podemos ter prioridades por ordem de importância.
E que, inclusive, direcionamos nossa vida em uma escala de prioridades.
Necessitamos de saúde, segurança e educação. Isto sendo atendido, podemos pensar no resto mais claramente.
Dito de maneira simples: tendo já resolvido problemas basais, concretos e objetivos, partimos para outros relacionados à desejos e aspirações.
Alguém que vive em uma zona de guerra, em condições miseráveis ou em um lar gravemente problemático, pode também desejar ser feliz, encontrar um grande amor, carreira profissional ou descobrir a cura para doenças terminais.
Porém, precisa sair concreta e prioritariamente deste contexto para poder agir na direção de seu objetivo maior.
Fica mais simples se pensarmos em situações mais dramáticas: você está dentro de um prédio que pega fogo. Sua prioridade é sair dali, se salvar.
Chega à rua em segurança e depois em sua própria casa bastante aliviado.
E tendo passado por tamanho risco, no dia seguinte pode passar a pensar que tudo o que você quer é: ficar mais tempo junto de sua família, conhecer o mundo, se separar ou somente comprar uma poltrona nova (porque suas prioridades continuaram iguais).
Se e quando estamos em uma situação especial de crise ou urgência, passamos para o modo “sobrevivência”.
“Ser feliz” é um luxo, adereço ou detalhe, quando nossa vida está em risco.
Ter um trabalho que seja interessante, amigos, conhecer diferentes lugares e culturas, ganhar o suficiente para não precisar se preocupar com isso, ler muitos livros, etc são desejos, ambições, aspirações, sonhos.
Até Março de 2020, nossas prioridades eram definidas enquanto certo equilíbrio entre trabalho e obrigações, cuidados com a família, descanso, relaxamento e diversão era mantido.
Então veio a pandemia, o isolamento e tudo o que se sucedeu, revirando cotidiano, planos, ideias e ideais.
Paramos, paralisamos e deixamos a rotina, o mundo como conhecíamos e toda e qualquer coisa que não fosse imperiosa do lado de fora.
Literalmente.
Ontem no jornal havia uma reportagem sobre pessoas que estão empreendendo viagens nesse momento. Por desejo ou para visitar familiares idosos e isolados. Também retratava os que são contra o deslocamento e as reações a esse respeito dos dois lados.
Uma moça, por exemplo, relatou uma conversa com a mãe em que disse claramente ser contra qualquer deslocamento agora e que, se a mãe insistisse em ir visitá -la, não abriria a porta. Simples assim…
Já um rapaz, brigava com a família, que achava inaceitável ele viajar neste momento por qualquer motivo.
Nestes casos as prioridades de cada um, que naturalmente já seriam diferentes antes, também se alteraram pelo surto do vírus.
A consciência e observação das consequências da pandemia e a vivência de isolamento social tão prolongado abalam certezas e nos fazem questionar prioridades anteriores.
Fechados em casa olhamos para fora de longe, e para dentro de perto…
O afastamento de pessoas, lugares e atividades e os inúmeros impedimentos associados, deixam claro o que é relevante para nós.
Oportunidade de repensar o que estabelecemos anteriormente pois vai ficando cada vez mais claro pela falta, ausência e impossibilidade o que é prioritário para nós.
No singular e no plural.