PREOCUPAÇÃO
“Depois de algumas conversas, eu e minha família decidimos passar um tempo na serra. Estamos todos em trabalho e estudos remotos e precisando de novos ares.
Iremos em 2 semanas e já comecei a planejar: precisaremos de roupas de frio, mas lá também faz calor frequentemente. Parece que teremos que levar alguns mantimentos porque é uma região mais afastada. Devagar vou organizando tudo…”
“Meu tio nos ofereceu a casa de praia dele por 2 semanas. Estamos aqui há 3 dias e o lugar é lindo e confortável mas, na correria, esqueci de trazer parte do meu material de trabalho e o repelente. Sempre arrumo as coisas em cima da hora e isto acaba acontecendo, mas vou dar um jeito aqui…”
“Vamos mudar de apartamento no mês que vem e estou na maior aflição pensando que agora a adaptação será difícil, os armários são pequenos e a vizinhança parece barulhenta. Costumo traçar cenários (negativos) e vivenciar antecipadamente os impactos deles…”
“Embora já soubesse há 2 semanas que teria que apresentar meu trabalho, deixei para o último momento e foi meio angustiante. Eu estava nervoso, a internet não era potente o suficiente, e foi confuso. Sou um procrastinador profissional e isso me atrapalha muito…”
Existe uma enorme diferença entre planejamento e preocupação.
Há pessoas que se planejam e organizam para o futuro, independente da data. Um evento na próxima semana, mês ou ano, é preparado de antemão.
Uma apresentação de trabalho, viagem, cerimônia de casamento. Qualquer evento pode ser pensado nos mínimos detalhes: o que vou vestir, como chegarei ao local, quais coisas devo ter em mente, etc.
Embora não se trate de “certo” ou “errado”, em termos de saúde mental, nosso parâmetro é o nível de sofrimento.
Antes, durante e depois do evento.
Funciona para você deixar para a última hora? Por exemplo, fazer as malas imediatamente antes de viajar?
Ou se planejar muito antes? Começar a organizar mental e concretamente, logo após ter tomado a decisão ?
Nos 2 primeiros exemplos, vemos pessoas que lidam de maneira totalmente oposta com planejamento e organização, mas ficam bem. Não há preocupações.
Nos 2 exemplos seguintes, existe sofrimento e preocupação. A maneira de lidar com o futuro- seja se antecipando ou “empurrando com a barriga”- provoca mal estar e não funciona…
Preocupação: a ocupação prévia do que pode vir a acontecer, a pré ocupação.
Há pessoas que, tendo uma viagem agendada, começam a pensar nas roupas e coisas que pretendem levar, os lugares que querem visitar, etc. Iniciam um planejamento.
Outras, literalmente fazem a mala momentos antes de sair de casa e deixam para resolver na hora o que querem e da maneira que desejam.
Se você se ocupa do seu futuro, organiza o que lhe parece importante, pontos que vão facilitar e suavizar a experiência, tudo parece certo. O futuro virá e você vai se encarregar dele, já prevenido em um ou outro ponto.
Porém, se você se preocupa com eventos futuros, tentando antecipar ou mesmo controlar, estará sofrendo de maneira desnecessária e estéril.
Uma coisa é se preparar, outra é acreditar que tudo está sob controle.
Quando nos ocupamos e organizamos o que é possível, podemos nos sentir mais preparados.
Mas, se nos preocupamos, tentando controlar todas e quaisquer consequências do futuro, teremos ansiedade e mal estar garantindos.
É compreensível que se queira “eliminar” surpresas e situações negativas, mas agora, especialmente, entendemos que isto não é possível.
Quem poderia imaginar que estaríamos hoje no 6° mês de isolamento físico?
Quem poderia imaginar que você, eu ou os outros estaríamos lidando com tudo desta maneira , seja qual for?
Essa vivência de pandemia, com tudo o que traz, nos permite separar claramente o que é um bom planejamento: aquele que protege e incrementa a segurança, do que é somente preocupação: dedicação ao controle (impossível) e predição do futuro (idem).
Tendo isso em mente, junto com a experiência adquirida, poderemos começar a separar o que é útil e nos favorece (especificamente em se tratando de planejamento) do que é preocupação inútil, pré- ocupação.