Saúde mental na pandemia – 25

OPORTUNIDADE

A vida é cheia de surpresas.

As boas alegram e animam. As ruins abalam e nos deixam tristes, mas também fazem parte da vida.

Do mesmo modo, oportunidades acontecem ao longo da existência.

Costumamos associá-las à coisas positivas: oportunidade de emprego, viagem, estudo, de conhecer gente interessante.

Algumas são mesmo maravilhosas e trazem mudanças incríveis.

Outras acontecem a partir de experiências difíceis ou até trágicas e então pensamos (posteriormente) que foram oportunidades de repensar a vida, valores e condutas ou de criar soluções a partir de algo negativo.

Situações positivas ou chances são imediatamente classificadas como oportunidades.

As decorrentes de eventos negativos costumam ser vistas como tal depois que passamos por elas. Muitas vezes não percebemos quando (e quanto) podem ser oportunidades.

Medicamentos potentes e revolucionários na medicina foram criados para tratar de feridos durante e após guerras.

O empresário de sucesso que só iniciou seu negócio (porque e) após ter sido recusado em vários empregos.

Trágicos e sucessivos ataques à escolas perpetrados pelos próprios alunos, chamando atenção para graves (e antes “invisíveis”) transtornos mentais ou sociais nesses ambientes.

Depois de um sério golpe financeiro, homem necessitado aceitou um trabalho que detestava e, através dele, conheceu seu grande amor.

Atropelada por um caminhão, jovem passou por uma longa e altamente dolorosa hospitalização e, a partir da experiência, desenvolveu técnicas de Mindfulness.

Pareceram oportunidades na ocasião? Não.

Certamente foram vistas como azar, tragédia e dor.

Muito duras de fato, mas também foram vivências que trouxeram urgência e oportunidade de desenvolver outras possibilidades para resolver problemas.

Quantas estórias reais como estas conhecemos ou mesmo vivenciamos?

A pandemia- ameaça à saúde e economia, acarretando o trancamento em casa de forma radical- é uma realidade grave, triste e assustadora.

Inegável e compulsória.

Porém, com essa vivência, surgem questionamentos coletivos e individuais:

Nossos horários e dinâmicas de trabalho usuais são necessários? O que nos informa a rápida despoluição e exuberância da natureza com nosso isolamento? Quais valores cultivamos enquanto sociedade? Finalmente entendemos nossa interligação e que o bem estar do outro nos afeta e vice-versa?

E eu?

Agora aqui, parado e afastado do meu dia a dia, penso: estava bem antes?

Gostava da minha rotina? Do meu trabalho?

No pólo oposto, a convivência ininterrupta do casal, família ou amigos isolados juntos põe à prova a solidez dessas relações.

Já existe a previsão de aumento de casamentos, nascimentos e divórcios imediatamente após o isolamento e há também relatos da percepção da imprevisibilidade da vida e da urgência de torná-la melhor.

Com a suspensão de tantos compromissos, eventos sociais e encontros, descobri outras vontades? Talentos? Formas de trabalho e (também) de lazer?

O distanciamento físico do funcionamento anterior permite observação, pensamento e avaliação.

Saindo do nosso padrão que atua em modo “piloto automático” temos uma chance de rever e então reforçar o que validamos e mudar o que percebemos não ser bom.

É uma tremenda oportunidade de evoluir como sociedade e comunidade, agir com mais sentido, empatia e melhorar nossas vidas coletiva e individualmente.

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