Saúde mental na pandemia – 24

ORGANIZAÇÃO

Após entender que ficaria trancado em casa por mais tempo do que imaginava, comecei a me planejar. Vou aproveitar para organizar muitas coisas:

Colocarei os documentos (guardados há anos) em pastas. Livros serão lidos e postos na estante. Vou arrumar a caixa de ferramentas, minhas roupas e sapatos no armário, as fotos antigas de viagens e coleções de medalhas- tenho todas, para desespero de quem mora comigo- das olimpíadas da escola.

Munido da combinação de: “já que” e “fazer limonada” no trancamento compulsório, resolvi fazer tudo o que vinha deixando (há anos) para depois e fiquei até animado com a perspectiva.

E agora, 5 meses depois, posso me considerar um expert.

Em planejamento de tarefas e em começos.

(Se é que ambos qualificam alguma espécie de expertise…)

Planejei como faria cada coisa; imaginei quantos dias cada uma me tomaria e cheguei até a comprar caixas para arrumar meus objetos na Internet.

E, de fato, comecei a fazer todas elas.

Foram muitos começos…

Iniciei com os documentos, mas interrompi porque era muito chato !

Aí resolvi que iria ler; além do interesse e cultura, poderia colocá-los lindamente na estante em seguida. Poucas coisas são tão dignas de auto reconhecimento quanto livros que já lemos dispostos na estante!

Mas, zero concentração e parei também…

Fui então para a caixa de ferramentas. Tarefa objetiva e muito mais fácil de executar, pensei. Só que eram tantas coisinhas: pregos de vários tamanhos, diversas chaves de fenda (para que mesmo ??). Fui ficando meio irritado e larguei aquilo…

Ao armário, então !

Fiquei de fato animado pensando em arrumar tudo; doar, descartar e, principalmente, reduzir a quantidade de coisas lá dentro de modo a conseguir achar certas peças quando quisesse.

Comecei a experimentar calças, camisas, etc e então fui ficando assim…como dizer…? Um pouco impactado ao perceber que não cabia em boa parte delas e/ou me caíam risíveis. Percebendo certo mal estar crescente, parei…

Fui para as fotos, mas como me deram muita preguiça, parti para a arrumação das medalhas e isso me pareceu bastante irrelevante nesse momento…

Parei também.

E agora, estou (continuo) aqui…

E aquela casa, que seria organizada por aquele cara super proativo (eu!!) está como antes…”

Pois, é…

Existe o mundo idealizado e o mundo real.

No primeiro, vamos dar conta de tudo o que não conseguimos antes já que “temos tempo e estamos em casa mesmo”.

Porém, no mundo real nos encontramos dispersos, preocupados, angustiados e instáveis.

E, importante frisar, isso faz sentido e é saudável agora.

Em questões subjetivas, muito tem que ser relativizado. Se estivéssemos em condições normais e você desfocado, distraído ou com dificuldades, seria preocupante.

Porém, uma vez que todos nós estamos mergulhados em informações assustadoras e dispersos em oscilações de acordo com os tempos atuais, fica ainda mais complicado manter o foco.

Organizar para, basicamente, diminuir a quantidade de itens à nossa frente ou em nossos compartimentos concretos é essencial e facilita muito.

Existem diversos métodos: organizar nossos pertences por ordem objetiva, temporal, afetiva ou uma combinação entre várias.

Só você mesmo pode definir a melhor opção, mas aqui vão 2 dicas: listas e cronogramas.

Quando identificamos travas ou padrões, podemos sistematizar.

• Listas podem ser muito úteis- anotar o que incomoda mais ou o que parece factível agora, ajuda. (Lembrando que o possível às vezes se sobrepõe ao “melhor”.)

O que lhe parece mais rapidamente executável do que o “ideal”?

Por exemplo, seria ótimo poder ler os livros e depois arrumar tudo, mas talvez seja mais viável só organizar e pensar em ler depois.

O que o atrapalha de fato, aqui e agora?

Excesso de objetos em sua mesa de trabalho, utensílios de uso diário mal armazenados, gavetas muito cheias, por exemplo?

É sempre útil focar no presente, pois aquilo que for uma necessidade nesse momento fará mais sentido.

• Atualização e reconhecimento: hoje consegui resolver tal coisa. É um passo e início da próxima etapa. Um caminho começa em algum lugar e a partir de primeiros movimentos.

Definir, por exemplo, quais coisas são prioritárias, urgentes ou mesmo mais simples de executar.

O excesso de informação visual, decorrência da quantidade de coisas que estão à nossa frente, turva a concentração. Este pode ser o começo da organização.

Outras observações : quais desordens o atrapalham mais ? Travas de energia e ação?

Quais coisas poderia fazer imediatamente que lhe trariam praticidade, agilidade no dia a dia, ou mesmo alívio?

Às vezes se trata de somente começar a limpar nossa mesa ou fazer uma lista de atividades a serem feitas para nos “aquecer” para outros movimentos.

São passos essenciais: definir pontos de partida, começar a caminhada e, reconhecendo o esforço que estamos fazendo em meio a tantas incertezas, seguir com nosso planejamento.

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