INSÔNIA
“Dia seguinte após a quinta noite… É hoje que posso acabar dizendo para o meu chefe que os comentários dele são desnecessários e essas camisetas que veste para as reuniões no Zoom, ridículas.
Melhor não. Não parece uma boa ideia ficar desempregado justamente agora…
Acho que farei algo mais comedido: vou abrir a janela e dar um berro.
Também não. A família e a vizinhança podem se assustar…
O que foi mesmo que disseram naquela palestra sobre como controlar a instabilidade e a raiva?
Na primeira vez em que aconteceu, lembrei que havia tomado muito café e não tinha feito exercício no dia anterior. Ok, acontece…
O dia seguinte foi um tanto difícil; falta de concentração e leve dor de cabeça. Falei com uma amiga que é insone crônica e me deu dicas: banho morno, óleos essenciais e chá de camomila.
Fiz assim de outra vez e até funcionou. Acordei contente, o dia foi melhor, com o humor mais regulado e pensei que não teria mais noites como aquela.
Porém, voltou a acontecer dias depois; fritei na cama por horas pensando em, desde teorias filosóficas complexas até absolutamente nada, passando por temas variados entre as 2.
Lembrei de um tio que é sofredor noturno contumaz e telefonei pedindo orientação. Sugeriu exercício puxado no fim da tarde, jantar mais leve e uma tacinha de vinho antes de dormir.
Os episódios se seguiram e no mais recente, já um tanto aflito, resolvi fazer o que cada um havia me sugerido. Um mix de todas as sugestões, uma após a outra.
Fiz exercício vigoroso cedo, respirações e música relaxante mais tarde, li, jantei leve, banho, óleos essenciais, maçã, leite morno, chá e 1 taça de vinho.
Desastroso. Além de insone, fiquei enjoado…
Foram 5 noites de insônia, felizmente espaçadas nos 3 últimos meses, caso contrário até o cachorro teria fugido junto com minha mulher e filhos para trocar de domicílio durante o isolamento…”
Às vezes à noite quando os barulhos externos diminuem, os nossos internos começam…
Quem não teve ao menos uma noite difícil nos últimos tempos??
Aqui não estamos tratando da insônia crônica que atormenta alguns de forma constante, mas como possível consequência e expressão desse momento.
Sintomas físicos- dores, incômodos, etc- são sinalizadores de que algo não vai bem. Fazem parte do nosso (saudável) sistema de defesa, porque nos levam a buscar ajuda.
Isso acontece de forma análoga com aspectos psíquicos e emocionais mas, como nestes as questões são subjetivas, nem sempre essa correlação é clara.
A insônia é um dos sintomas frequentes de medo e ansiedade e tem ocorrido de forma pontual e repetida agora, que estamos vivenciando temores e incertezas.
Mesmo que pensamentos sobre a pandemia, riscos e eventuais efeitos não nos venham à mente de forma clara quando temos dificuldade para dormir, estão no pano de fundo e podem fazer parte de nossas inquietações atuais.
No entanto, há algumas estratégias para lidar com isso e melhorar o sono:
Boa alimentação ao longo do dia, prática regular de exercícios, manutenção de uma rotina e contatos mais positivos com aspectos nossos e em interações com os outros, nossos “alimentos afetivos e emocionais”.
Existe também a higiene do sono que é a preparação para o melhor descanso: se desligar mais cedo de notícias, celular, computador e eletrônicos, um banho morno e bom ambiente físico- a regulação de temperatura, luzes e ruídos.
Tentar diferentes estratégias, observando o que funciona melhor para nós.
E entender que nossa eventual insônia está em sintonia com esse momento também pode nos acalmar.