HORÁRIOS
Vivemos em sociedade. Naturalmente entrelaçados, precisamos organizar tempos e movimentos.
Temos que definir horários de funcionamento de estabelecimentos comerciais, escritórios, serviços, consultórios. Caso contrário, será um caos.
Até aí, tudo certo.
Quer dizer, mais ou menos certo, como veremos a seguir.
Aqui temos uma visão em 3 tempos: passado, presente e futuro.
No passado, lojas, clínicas, escritórios, profissionais liberais, shoppings e todos os outros ramos de atividades seguiam horários de abertura e fechamento pré determinados.
Isso fazia com que os transportes públicos e vias urbanas tivessem os “horarios de rush”. Ou seja, um trajeto que levaria por exemplo, 30 minutos, poderia tomar 1 hora e meia, 2 horas (ou mais) para ser percorrido.
Quem nunca ficou preso em engarrafamentos, passando tempo demais no ônibus, carro ou qualquer outro transporte simplesmente porque havia gente demais se deslocando ao mesmo tempo ?
Há estatísticas estarrecedoras calculando que algumas pessoas dispendem 4 ou 5 horas em transportes públicos todos os dias, somente para chegar no trabalho e voltar para casa, muitas vezes de pé em veículos apinhados.
É praticamente um dia por semana gasto em deslocamento. 4 dias por mês !!!
Que nível de stress isso causa?
Quantas e quais outras coisas poderíamos fazer nesse tempo?
Qual é o benefício dessas horas que passamos fazendo nada, além de torcer para passarem mais rápido?
Mesmo você sendo aquela pessoa pragmática e positiva que tem sempre um livro na bolsa, se ocupe mandando mensagens, resolvendo pendências ou somente se distraindo com vídeos leves, é bastante tempo perdido…
Com a decretação da pandemia, passamos longo tempo em distanciamento e com exceção dos serviços essenciais, a dinâmica de outros trabalhos mudou e então tivemos a oportunidade de experimentar novos horários ou até a ausência deles.
No presente tudo se alterou novamente: comércio, serviços e lazer retomaram há poucos dias em horários restritos.
Embora estejamos experimentando uma abertura gradual e sistemática, estamos no 4° mês de isolamento físico e muitos ainda estão (e seguirão) trabalhando de casa.
Isto nos faz refletir sobre horários.
As pessoas que mantiveram seu trabalho podem ter nesse momento uma ocupação regular, mesmo que de forma remota: horários marcados, reuniões e metas ou ter até um esquema mais flexível.
De qualquer maneira, existem aí molduras e balizadores.
Neste caso, parece mais possível produzir e ser eficiente, ainda que a instabilidade naturalmente nos afete.
O maior desafio se apresenta para quem não está trabalhando nem tem cobranças externas.
Facilmente se pode entrar no modo “tanto faz” ou “não faz diferença, nem vai mudar nada”.
Em qualquer um dos casos, precisamos estabelecer horários e rotinas: a que horas acordamos, o que fazemos em seguida, almoço, jantar, cozinhar, limpar a casa, cuidar de quem eventualmente precise e tempo de lazer.
Sim, tempo de lazer !!
Quando embaralhamos (conscientemente) dias de semana com fim de semana, entramos no modo “dá no mesmo” e isto é arriscado.
Exatamente porque tudo se mudou lá fora e também em nossas vidas, temos que ter alguma organização e limites.
Ainda que nos pareça desnecessário ou até absurdo, ajuda a manter uma conexão com a realidade e funcionamento mais positivo.
Nosso metabolismo se comunica em fluxo constante com nosso cérebro, promovendo uma sintonia em funcionamento.
Durante as férias, podemos alterar horários e não ter rotina, mas não é a situação aqui.
E no futuro, como será?
Tendo sido forçados a parar e a partir daí refletido sobre nossos horários anteriores e o que experimentamos no confinamento físico, podemos aproveitar para pensar em mudanças.
Turnos diferentes proporcionariam fluxos mais equilibrados, menos congestionamento e stress, pois é muito frustrante perder esse tempo precioso.
Seríamos mais saudáveis, tranquilos e pacientes, sentindo que nosso tempo é gasto com o que realmente nos importa: família, estudo, lazer…
Estamos atravessando algo amplamente inédito, difícil e eventualmente traumático, usando bastante força e resiliência.
Guerras, intempéries e pandemias cobram alto preço de nossa saúde, finanças e psique, mas também trazem avanços científicos, tecnológicos, comportamentais e consequentemente, evolutivos.
Há quem diga que, voltando às atividades e dinâmicas de sempre, nada mudará. Voltaremos a ser os mesmos.
Penso, talvez por “vício” da profissão, afinal trabalhamos com entendimento e possibilidade de mudança, em transformações significativas.
Com esperança de que, após período tão longo e impactante, teremos visão mais humanitária, solidária e até mais racional da vida em sociedade e funcionaremos de acordo com isso.