Saúde mental na pandemia – 19

FAMÍLIA

Família – origem, base e pertencimento.

É frequentemente desenhada como uma árvore pela associação- raíz (base), tronco (consistência) e galhos (direção).

Aqui está representada como um coração cheio de pessoas para incluir aquelas que muitas vezes consideramos família.

Sendo o alicerce, fundação que nos sustenta e identifica, obtemos ali a segurança para sair e porto seguro para voltar.

Se, como costumamos dizer, cada pessoa é um mundo, cada família seria um… sistema solar ??

As características de cada ser humano e de sua célula familiar são variadas; o que é comum e usual em uma família será distinto em outra ou às vezes até o oposto e isso não quer dizer melhor nem pior.

Somente diferente.

Entendemos de imediato por família as ligações sanguíneas: pais, filhos, avós, tios, primos.

Há também os que consideramos família por laços afetivos- são as nossas “famílias escolhidas”, independentes da biológica.

E ainda temos atualmente diversas composições e concepções de família diferentes da tradicional.

De qualquer maneira, quando falamos em família, pensamos naquelas características positivas citadas acima. Idealmente, seria maravilhoso se elas fossem todas assim mas, sabemos que nem sempre isso acontece.

Toda e qualquer família tem suas complicações e pontos negativos. E em algumas, os problemas, hostilidades e dificuldades podem até ser enormes.

Felizmente, relacionamentos não são ciências exatas ou pré determinados como certezas. Se você vem de uma família feliz e acolhedora, suas predisposições poderão ser mais favoráveis.

Só isso. Lembrando que, “garantido” ou“perfeito”, não existem.

O mesmo se dá para o outro lado: ter uma família com mais problemas, doenças ou até tragédias, não lhe “garante” a infelicidade. Muitas vezes, as adversidades até fazem de nós seres mais resilientes e inclinados ao amor e harmonia. Exatamente por termos vivido tantas dificuldades em casa.

Do ponto de vista profissional e pessoal, entendo que a família que temos (de onde viemos) depende basicamente de dois fatores: sorte e trabalho duro.

• Sorte porque não a escolhemos. Nascemos em uma família e a encontramos em sua dinâmica própria e nas circunstâncias em que está quando viemos ao mundo.

Nesse exato momento, há bebês nascendo em lares amorosos e provedores de segurança, cidades em guerra, familias com muitos recursos ou em situações de vulnerabilidade.

• Trabalho duro porque a família não nasce pronta. Ela se constrói ao longo dos anos, com cada integrante contribuindo com os recursos (internos e também interativos) que possui.

As relações vão se estabelecendo e isso dá bastante trabalho. Exige de todos os integrantes atenção, dedicação, empatia, esforço, humildade, conversas.

Muito empenho para o bom entendimento.

Será um desenvolvimento constante e para a vida toda, se o bem estar em família for uma de nossas aspirações ou prioridades.

E isso é muito importante porque, além de melhorar a qualidade de nossas relações atuais, nos prepara para as futuras. Para a família que desejamos ter.

Com a pandemia, muitos voltaram para as casas de suas famílias.

Outros levaram membros de suas famílias para as suas casas.

E alguns resolveram juntar a família e ir para uma outra casa maior, fora da cidade.

Ainda que tenham sido opções forçadas e por segurança, estas pessoas estão tendo uma oportunidade de convívio, contato e até uma chance de resolver pendências emocionais/relacionais do passado.

E com a convivência e interação mais constantes, o trabalho duro mencionado antes terá nova oportunidade de se dar, manter e aperfeiçoar.

Há relatos muito importantes em consequência disso: pessoas “descobrindo” pais, mães, irmãos e familiares como pessoas interessantes, divertidas, de valor e com quem é ótimo conviver.

Por força dos trabalhos domésticos e do tempo integral em casa, algumas familias estão passando mais tempo juntas.

Preparando e fazendo as refeições, compartilhando momentos de lazer, inventando atividades, jogos, assistindo filmes.

Tendo vontade e disponibilidade de interagir de maneira prazerosa.

Até os que já viviam com suas famílias anteriormente, podem estar agora convivendo e não mais só coabitando, como faziam na correria do dia a dia e demandas da vida social da dinâmica anterior.

Por último, mas não menos importante, há também chances de rever situações do passado, assuntos que ficaram mal resolvidos entre familiares que nesse momento estão ali conosco e, talvez até mais disponíveis e abertos para isso.

Até para os que tiveram que se afastar de suas famílias, pode vir a acontecer nesse distanciamento imposto o reconhecimento do pertencimento, dos valores que receberam, a perceção da própria necessidade que eles tem das famílias e a vontade de melhorar essas relações e então fazer isso remotamente.

Porque não?

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