Saúde mental na pandemia – 18

FAXINA

A que ponto chegamos ! Uma psicóloga escrevendo a respeito de faxina em texto sobre saúde mental. Tempos estranhos…

O momento nos força a cuidar da limpeza, assepsia e higienização, mas não se trata somente disso.

Usando de senso de oportunidade e pragmatismo, podemos ampliar a “limpeza” para outras áreas da rotina e da vida.

Existem várias faxinas possíveis e úteis nesse momento e abordaremos algumas: a que envolve higiene e prevenção de contaminação, a de seleção para manutenção, doação ou descarte, a de compromissos e a mental.

Temos que lavar, desinfetar e descontaminar. São etapas do repetitivo e exasperante processo que, embora menos irritante para os obsessivos e pesadelo para os mais distraídos, é inescapável para todos nós atualmente.

Referente ao que possuímos, dentro do padrão consumista e ansioso de nossos tempos, frequentemente compramos muito mais do que efetivamente necessitamos ou usamos.

Tão interessante a sinopse desse livro ! (Só que nunca será lido.)

Que linda blusa ! (É a 8a da mesma cor. Acabará perdida no armário.)

Utensílio incrível para a casa ! (Vou me lembrar de usá-lo?)

Objetos comprados em oferta, outros guardados nos armários, mais um adereço, aquela peça de decoração “para quando terminar de ajeitar a casa”…

Quantas vezes, no meio de uma arrumação ou mudança, encontramos objetos em duplicidade ou aqueles que julgávamos perdidos?

A faxina enquanto separação do que queremos guardar, dar para alguém ou jogar fora é importante e terapêutica; o excessivo precisa dar lugar ao útil ou ao que é apreciado aqui e agora.

O quando do “para quando” costuma ser nunca.

Os orientais, sábios e minimalistas, entendem que objetos em quantidade dificultam a circulação da energia.

Também podemos estender isso ao olhar; quando entramos em um cômodo abarrotado de móveis, objetos e toda sorte de decoração, dificilmente prestamos atenção em algum deles.

A mesma coisa se dá em multidões e eventos com muitas pessoas.

Nada se compara com a energia que emana de um grande número de pessoas juntas em um show ou celebração, mas estes são pontuais e esporádicos.

No dia a dia, são muitas as solicitações e compromissos de trabalho e sociais.

Tantas vezes nos encontramos perto de muitas pessoas e nos parece que estamos interagindo, trocando ideias, impressões e até afetos, mas ao final nos sentimos sós.

Dependendo de nossa atuação profissional e/ou inserção social, certo exagero pode fazer parte e aprendemos a lidar com isso, até aproveitando o lado bom dessa dinâmica.

Agora, com a privação destes, paramos para sentir e observar se e quais nos fazem falta, os que nos alimentam social e afetivamente e os que só cumprimos porque precisamos. E então pensamos: será que realmente precisamos de tantos eventos ? Com quem, de que maneira e com qual frequência desejamos interagir? Quem, de fato, queremos ter ao nosso lado?

E, por fim, a faxina mental. Além dos assuntos sobre os quais precisamos pensar- família, trabalho, deveres, obrigações ou necessidades, o que mais nos ocupa a mente?

Pensamos e pensamos; mobilizamos raciocínio e energia em elucubrações, mas estas promovem bem estar? Nos impulsionam para frente? Energizam?

Pela própria constituição e manutenção da espécie, somos seres repetitivos e este modo funciona tanto para o que é positivo quanto para o que é negativo.

Quando falamos em zona de conforto- termo que particularmente considero problemático por dar a ideia de algo “confortável”- nos referimos à padrões, ao que nos é conhecido, podendo ser inclusive extremamente desconfortável. E isto também se aplica ao que costumamos pensar.

Ideias, lembranças e o próprio pensamento nos vem espontaneamente, mas em quais nos fixamos?

Até pensamentos podem ser padrões de negativos de repetição, costumes que, como vícios, nos tiram o sossego e drenam ímpetos mais positivos.

Não é possível escolher o que virá ao nosso pensamento, mas podemos separar o que é bom do que é sofrimento desnecessário, lixo mesmo, fazendo aqui também uma faxina.

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