EMPATIA
“Vejo a pia cheia de louça suja novamente e meu 1° impulso é sair gritando pela casa, mas penso que está pesado para todos…”
“Minha mãe entra no meu quarto pela enésima vez para dizer qualquer coisa. Dá vontade de dar um corte, mas lembro do relato das frequentes (e recentes) insônias dela e resolvo só escutar. Pacientemente…”
“Marido no sofá há 3 horas. E eu, sem conseguir parar um minuto, já estou pronta para começar a reclamar, mas sei o quanto está preocupado com uma possível demissão, então dou meia volta e saio…”
“Meu filho adolescente parece sempre zangado e isso me irrita, mas imagino que esteja sentindo muita falta dos amigos, agora preso em casa…”
“Ligo ou não para aquela amiga que vai se lamentar pelos longos minutos do telefonema? Sei que ela está sozinha em casa no isolamento físico…”
Momento difícil. Desafio à nossa tolerância. Teste de saúde mental e de resistência ao mal estar e oscilações- próprias e dos outros.
Empatia posta à prova repetida e constantemente.
A empatia é definida como capacidade, para além da escuta, de compreender o outro, entender o que e como o outro sente e até ser tocado emocionalmente pelo que o semelhante está vivenciando. Se colocar nos sapatos do outro, como se diz.
Sentir ansiedade, medo, irritação, aprisionamento, solidão, exaustão, estar “no limite”, desânimo, preguiça, tédio, saudade…Quem nunca nessas últimas semanas?
Não, você não está desequilibrado por sentir essas coisas em ondas (mesmo se estiver se percebendo até bastante bem na atual situação).
São consequências da consciência da realidade e do acúmulo de tempo em isolamento físico.
O tempo passa, criamos uma rotina e dinâmica para lidar com tudo isso e nos adaptamos mas, paradoxalmente, os sentimentos, emoções e reatividades se exacerbam. Às vezes, parece que quanto “melhor” aguentamos, menos suportamos…
É natural e saudável que nos aconteça assim pois está em consonância com a realidade. Quem não sofre ou se preocupa, ainda que pouco ou eventualmente, está em negação ou dissociação.
Uma das mais importantes avaliações para classificar alterações como distúrbios mentais é a falta de motivos reais para tais transtornos ou perturbações. Infelizmente, nesse momento o “anormal” é o “normal”.
Então se está duro para você, pode ter certeza que também está para a sua mãe, filho, marido, colega de trabalho, etc.
Mesmo aquele digital influencer, youtuber ou celebridade eficientissimo, altamente funcional e “muito feliz pela oportunidade e tempo para atividades e descobertas incríveis” também está passando por instabilidades. Pode ter certeza.
Não se trata de OU mas de E. Momentos incríveis E outros ansiedade extrema.
Entendendo que a instabilidade e oscilações são parte do seu funcionamento nesse momento, você pode estender essa compreensão ao(s) outro(s).
A empatia é fundamental nesse momento. Se acolhemos as ondas de pensamentos e sentimentos negativos, também podemos ser mais generosos nas relações com os outros.
Expressões como “mais do mesmo” ou “negatividade atrai más vibrações” não se referem a nada esotérico aqui, mas ao que focamos.
Sentimentos e emoções não são escolhas. Não temos controle do que sentimos ou pensamos mas, sim, sobre a forma de lidar com eles, com o que faremos a partir daí, sobre como reagiremos.
Se alguém fala com você de forma raivosa, ansiosa ou triste, certamente lhe despertará alguns sentimentos também.
Se você responde do mesmo jeito, provavelmente haverá uma escalada para o conflito na interação e um gosto amargo no final.
Mas, se você conseguir respirar fundo e pensar em como o outro pode estar se sentindo- do lado de lá, dentro do quadrado dele, antes de reagir e usar de empatia, respondendo em outro tom, a interação será diferente e mais positiva, podendo trazer inclusive o benefício adicional de melhorar também o estado emocional do outro.
Não é fácil, mas se torna mais simples se mantivermos e empatia no cantinho do olho.