DIA A DIA
Vamos aqui abordar o dia a dia individual e o coletivo, dirigindo o olhar sobre 3 tempos: passado, presente e futuro.
Sendo morador do Rio de Janeiro você enfrentava trânsito, barulho, poluição e pressão em doses massivas e cotidianamente como a maioria dos habitantes de cidades grandes.
E, em nossa cidade com índices altíssimos de violência à qual somos constantemente expostos, a vivência de medo e ansiedade é parte integrante de nosso dia a dia.
Podemos até dizer que o medo e cuidado são necessários em certa medida, pois assim nos protegemos já que, mais distraídos e despreocupados, não perceberemos os (reais) perigos que nos cercam.
Durante a semana trabalhamos, estudamos, fazemos exercícios e nos ocupamos com muitas obrigações e atividades. Nos fins de semana, relaxamos; passamos tempo com a família, viajamos, encontramos amigos, etc.
Teoricamente nos dedicamos ao trabalho nos “dias úteis” e ao lazer nos momentos livres e nas férias.
Em tese, pois muitas vezes isso se embaralha para todos nós. Temos trabalho, estudo e pendências que se estendem para estes períodos, além de compromissos familiares e sociais que podem se transformar em maratonas.
Já havíamos desenvolvido rotinas, logísticas e hábitos para organizar e lidar com tudo isso.
E, enquanto íamos dando conta de tantos tempos e demandas, consumíamos.
Cada um a seu modo e dentro da própria realidade, mas incessantemente.
Antes, durante e depois de tudo o que fazíamos: instrumentos para o trabalho, aparelhos, cursos, livros, roupas, objetos, cultura, estilo de vida, moda, etc.
Pensando em aspectos mais individuais, até então cada um de nós também tinha sua própria realidade, rotina e ocupações, independente de serem satisfatórios, agradáveis ou mesmo funcionais.
Até que vem a pandemia e o imediato isolamento que nos detém e fecha em casa. Solavanco e susto até para os eventuais visionários.
Então paramos. Em situações e condições distintas; melhores para uns ou eventualmente mais dramáticas para outros, mas a dinâmica mudou para todos.
Tendo sempre em mente que o pano de fundo é a pandemia e o cenário negativo e forçado do isolamento, obviamente não se trata de um tempo “sabático” ou opcional, mas de aproveitar e fazer uma reflexão, já que estamos em uma suspensão de fato.
E então, ao menos 2 pontos chegam à nós: a observação e o questionamento.
Agora, sem todas estas movimentações:
Como está nossa cidade?
A natureza?
Os níveis de poluição visual, sonora, auditiva?
Inúmeros vídeos circularam na rede mostrando a limpeza das águas de mares e rios, animais antes não vistos e muito silêncio.
Então surgem várias perguntas e muitos “e se” para o futuro:
A presença física no local de trabalho é tão necessária? Nos mesmos horários? Precisamos todos, viver na cidade onde trabalhamos? Escritórios e empresas, hoje enormes e abarrotados de móveis, pessoas e objetos poderiam funcionar de outra maneira?
E se as pessoas não perdessem tanto tempo, saúde e dinheiro diariamente (no mínimo 2x por dia) em transportes públicos lotados? E se pudessem ter escolhas mais alternativas de horários de trabalho, lazer, consumo?
Seriam menos estressadas e mais saudáveis? Com filhos e família idem?
Algumas mudanças desafogariam o sistema de saúde?
Preservariam a natureza de maneira simples e barata?
Produziríamos mais e melhor?
Voltando para o individual novamente. Se auto observando nesse modo suspenso de espera, o que pensa e sente em relação à sua rotina anterior?
Onde e como estava quando parou? Quais eram seus hábitos? Prioridades?
Como se sente atualmente? Se cobrando e forçando alta performance já que tem “tanto tempo livre”, ou se vê mais relaxado?
Algo ou alguns te fazem falta? Outros lhe dão alívio pela ausência? Está percebendo diferenças em você mesmo?
Novas ideias, desejos ou necessidades?
E como pretende voltar quando isso acontecer?
Para o dia a dia, prioridades, consumo e vida social nos padrões anteriores? Ou descobriu novos interesses e aptidões, e, a partir disso, sabe o que deseja manter, descartar ou mudar?
São observações e questionamentos que podem trazer mudanças para melhores condições de vida e uma dinâmica mais saudável .