DESPERTAR/DESCOBERTAS
“Sonhei que estava andando na areia da praia, pertinho do mar. As ondas batiam nos meus pés e canelas. O calor do sol no rosto e a brisa eram suaves…
Acordei feliz depois deste sonho agradável, ainda com aquela sensação muito vívida, mas em seguida me dei conta que a realidade continua sendo estar dentro de casa. Dia e noite…”
Caminhamos para o final da 11a semana de isolamento. Sem nenhuma previsão clara.
Muito tempo de um tempo sem tempo para acabar…
Uma mistura de desânimo, tédio e preguiça aparece e, nesta semana, a palavra “cansaço” foi repetida mais vezes do que nas anteriores.
E seguimos experimentando as oscilações de humor e de estados: calma e ansiedade, esperança e incerteza. Bons e maus momentos.
Lembrando do trecho da oração da serenidade que diz “aceitar aquilo que não posso mudar“, voltamos ao acolhimento e resignação, mas com a possibilidade de pesquisar as boas opções dentro de nós mesmos.
Ainda que você se sinta um prisioneiro sem data para a liberdade, ao admitir que não há nada que possa fazer para mudar essa realidade por ora, existe a chance de utilizar esse período positivamente.
Se fala em meses, semestre e até ano perdido- eventos, cursos, concursos e prazos foram suspensos, adiados ou até anulados. É fato.
Contudo, se pensarmos na relatividade e uso do tempo, entenderemos que não será perdido se pudermos dar um novo sentido à ele.
Já vimos alguns filmes que retratam uma pessoa encarcerada. Em alguns, o tempo na prisão somente depaupera o indivíduo física e emocionalmente, ou é ocupado com planos de fuga ou vingança.
Há também outros em que o prisioneiro estuda à distância, se dedica à alguma atividade, religião, etc.
Lembro de uma reportagem sobre um americano que escreveu 7 livros durante o período em que ficou preso.
Obviamente não foram anos bons mas, com certeza, passaram mais rápido e o prepararam melhor para a vida em liberdade.
Agora temos um confinamento real, mas também a possibilidade de despertar e descobrir o que realmente importa para nós.
As pessoas diretamente ligadas à atividades essenciais ou de áreas específicas que seguiram trabalhando podem estar muito ocupadas.
Outras, mesmo trabalhando, ficaram mais livres e algumas passaram a ter (ao menos teoricamente) todo o tempo livre.
Contudo, de maneira geral, estamos todos ocupados com atividades antes delegadas a terceiros ou menos constantes como afazeres domésticos, cuidados com crianças ou membros da família em período integral.
Nossa dinâmica e uso do tempo se modificou.
Paramos de correr. Despertamos na realidade do isolamento físico e a partir disso, fizemos muitas e variadas descobertas. Concretas e subjetivas.
“Observei que minha rotina me deixa muito ansioso”
“Vi que quase não passo tempo com meus filhos”
“Solto, eu estava tenso, e agora estou mais relaxado”
“Descobri que a maior parte do que fazia no tempo livre não está me fazendo nenhuma falta agora”
“Notei que sou uma pessoa muito mais criativa do que me achava”
“Me dei conta que esse trabalho não me satisfaz”
“Percebi que passo muito tempo com pessoas sem afinidade comigo e pouco com meus amigos de verdade”
“Passei a me sentir mais tranquilo longe do meu trabalho”
“Sem encontros presenciais, percebi que uns me fazem muita falta e outros, nenhuma”
“Me peguei feliz cozinhando com minha família”
Estes são exemplos de reflexões nesse momento.
Ele vai passar e torcemos para que isso aconteça logo e da melhor maneira possível, mas será muito proveitoso se pudermos aprender com tudo isso.
Se dermos atenção às nossas novas percepções, observações e descobertas, perguntas e questionamentos virão.
Agora que entendi como me sinto a respeito da minha família, trabalho, estilo de vida e relacionamentos, o que desejo mudar?
Quais são minhas prioridades?
Para onde, com quem e como quero ir?