CONFLITO
“Tudo começou com uma observação a respeito da falta de sal na comida e, minutos depois, estávamos em uma briga feia, revirando assuntos do passado…”
“Fui reclamar da bagunça no quarto da minha filha e, isso rapidamente virou um debate acalorado sobre falhas e faltas…”
“Disse para a minha mulher que havia uma mancha na blusa dela e, nem sei como, entramos em uma DR pesada, cada um falando de suas frustrações no relacionamento…”
Pois é, não está fácil.
O tempo vai passando e, se por um lado estamos mais adaptados, organizados e criativos no manejo do tempo e da convivência, por outro lado o próprio isolamento e interação contínuos nos deixam sensíveis, irritadiços e estressados.
Quem teve aulas de Psicologia Comportamental ou leu sobre experiências nessa área, está familiarizado com algumas que tratam dos efeitos do confinamento, especialmente em ambientes pequenos e superlotados.
Nestes casos, os indivíduos podem se tornar instáveis e agressivos.
Quanto menor é o espaço, maior é a vulnerabilidade para isso, mas ela também pode ocorrer em lugares mais amplos.
Desde experimentos para estudo, passando por prisões e até no popular programa “Big Brother”, observamos os efeitos do isolamento e da convivência prolongada com as mesmas pessoas.
Expressões de amor, solidariedade, contrariedade, raiva ou irritabilidade em alta voltagem são algumas das consequências naturais desta situação.
Estamos atravessando confinamento e isolamento longos causados pela pandemia- que nos ameaça física e economicamente- somados à incerteza e imprevisibilidade.
Com o convívio constante e ininterrupto, as diferenças de pensamentos, maneiras de ser, opiniões e hábitos entre as pessoas se tornam mais aparentes e incômodas.
Receita certeira para oscilações e potenciais conflitos.
É previsível que os que estão acompanhados passem por altos e baixos nas interações: momentos muito bons de amor e harmonia, e outros de raiva, frustração e impaciência.
Os que estão em isolamento sozinhos não estão livres disso. Mesmo que não dividam o ambiente com outros, poderão ter conflitos com pessoas da família, do trabalho ou amigos via telefone ou pelas redes.
E, para ambos grupos, há ainda as “brigas internas”: pessoas vivendo um inferno dentro delas mesmas por condições físicas, econômicas ou emocionais (anteriores, presentes ou futuras).
Precisamos, mais que nunca, ter atenção, cuidado e empatia-palavras que inevitavelmente se repetirão ao longo dos textos.
Atenção para os nossos estados. Ouviu, sentiu ou pensou algo que disparou sua raiva, medo ou ansiedade? Sinal para parar, se observar e esperar antes de reagir.
É muito importante nessa hora “alongar” o caminho entre o impulso e a boca, como se ele tivesse muitos metros (e não apenas segundos).
Cuidar, na parte que lhe cabe, para que ação e reação não escalem em conflito maior.
Empatia. Independente (e apesar) das condições de cada um, o isolamento prolongado é difícil para todos.
Você está irritado? Com medo? Ansioso? Gostaria de sair e dar uma arejada? Se sente preso?
Sua mãe, pai, irmão, mulher ou “colega de isolamento” também…
CONVIVÊNCIA
Já que abordamos acima a parte negativa e potencialmente causadora de conflitos, podemos nos concentrar aqui na parte positiva.
A convivência está nos ensinando coisas muito importantes e valiosas.
Fechados em casa, nos voltamos para dentro e para quem convive conosco.
A falta de saídas e os trabalhos de casa que todos encaramos: faxina, higienização de tudo o que vem da rua, preparo de refeições, etc, aumentam a interação com quem vive conosco.
Passamos a fazer tarefas relacionadas à casa em conjunto e até no mesmo ambiente.
Por exemplo: antigamente, podíamos comer na rua ou em casa em horários diferentes. Hoje preparamos as refeições e comemos juntos. Isso pode ser divertido, criativo e também nos aproximar.
Algumas pessoas fazem atividades lúdicas juntas- jogos de tabuleiro, cartas, assistem filmes, etc.
Há relatos muito significativos e bonitos de pessoas “descobrindo” seus pares, filhos, irmãos ou pais. Notando como são interessantes, bons companheiros e divertidos. Revendo seus relacionamentos e a importância de participar da vida deles.
Pais e mães que estão felizes por poder acompanhar os estudos dos filhos, conversar e conviver com eles, ter tempo para conversar sobre coisas importantes e outras até triviais, mas muito prazerosas.
O mesmo se dá para quem vive com pessoas que não são da família ou para quem mora sozinho e interage de forma remota.
Sem minimizar ou negar a gravidade do que está acontecendo, essa pode ser uma grande oportunidade para nós.
Antes, corriamos muito. Hoje temos mais tempo para conviver e compartilhar, não só coabitar.
Não precisamos mais sair voando porque o trabalho, o par ou amigo está lá fora nos esperando.
Podemos somente ficar, e então vamos relaxando e interagindo, conseguindo olhar para o(s)outro (s) sem controlar os minutos. Sem pressa, pressão ou montes de demandas.