Hoje, 19/Abril/20, aqueles que seguiram a orientação inicial de isolamento social completam mais de um mês em reclusão.
Os profissionais que puderam continuar executando suas funções remotamente seguiram trabalhando. Por sorte, faço parte desse grupo e agora atendo de casa.
Cada um reagiu de uma forma, porém o medo, a incerteza e pouca orientação foram comuns para todos. Sem exceção.
Nunca vivemos nada semelhante.
Os dois pilares mais fundamentais de nossas vidas: saúde e subsistência, estão ameaçados e isso nos desestabiliza em maior ou menor grau, de acordo com a realidade e nível de ansiedade de cada um.
Existe o chamado “grupo de risco”, mas também casos graves fora desse grupo.
Como podemos entender isso?
A sobrevivência material também se tornou incerta.
A economia vai ruir?
Vamos conseguir nos manter?
Ainda teremos emprego?
Como ficará situação econômica do país? A minha e a da família?
De amigos? Dos meus semelhantes?
Muitas perguntas para poucas respostas.
Quem trabalha com saúde mental naturalmente vira “pára raio” dessas aflições, mas também um potencial receptor e transmissor de humores, ideias, fatos e sugestões.
Trabalhar com a escuta, sendo ao mesmo tempo “receptáculo” e “multiplicador” foi minha motivação para iniciar esse blog.
O objetivo dos textos é ajudar a acolher, identificar e reconhecer os sentimentos e pensamentos envolvidos, compartilhando percepções e sugestões.
Há muito o que dizer, então seguirei um parâmetro alfabético para facilitar. Não é um dicionário, somente uma sistematização.
Muitos tópicos em algumas letras e poucos (ou nenhum) em outras.
Gostaria de abordar dois pontos aqui:
ACOLHIMENTO
Estamos inundados, afogados em tanta comunicação; notícias que são, na maioria das vezes, negativas e catastróficas.
Sabemos que, não somente ao longe – em outro continente ou país – está ocorrendo uma pandemia que provoca tanto sofrimento. Atualmente está mais perto de nós. Na casa de alguém próximo ou mesmo em nossa própria casa…
A reação imediata é o medo e a ansiedade decorrente.
No presente e pelo futuro.
Isto é real e está em total consonância com o momento, daí a necessidade de acolher os pensamentos, emoções e sentimentos que nos provocam.
Não estamos criando fantasmas, cenários irreais ou delirantes.
Infelizmente isso está acontecendo.
Então, se está ansioso, com medo no presente, preocupado com o futuro e se sente perdido, você está vivendo de acordo com o momento.
Não é um problema seu. É um problema nosso.
Planetário até, pois se trata de uma pandemia e o mundo interligado faz com que todos- indivíduos, economia e meio ambiente, estejam conectados e afetados.
Mas, acolher não significa mergulhar no desespero e ficar ali dentro indefinidamente.
É apenas identificar e reconhecer o que estamos sentindo e que isso faz sentido.
Se estivéssemos contentes enquanto estamos vendo e sendo “abastecidos” com tantas informações, certamente teríamos um problema: a dissociação da realidade, que estaríamos varrendo para debaixo do tapete…
Então a sugestão é: acolha, reconheça e faça contato com o que pensa e sente, entendendo que tudo isso está ligado aos acontecimentos.
Porém, uma vez que você não tem como mudar esta situação, se direcione para contatos, interações e informações mais positivas e luminosas porque estes, felizmente, também existem agora.
AJUDA
Primeiramente a você mesmo.
Se está enfrentando dificuldade para cozinhar, limpar a casa, entender matérias dadas à distância , ou mesmo para lidar com manifestações físicas, psíquicas ou emocionais suas, reconheça isto e busque ajuda.
Não sei cozinhar, acompanhar as aulas online ou entender o que estou sentindo porque nunca fiz isso e nem me senti desta maneira antes…
Se é assim, busque ajuda. Afinal, é a primeira vez que algo tão abrangente acontece.
Atualmente, muitos de nós tem acesso à informação, ao compartilhamento, ao estudo à distância.
Ainda que estejamos mais isolados ou até sozinhos, temos um telefone celular, uma TV que opera 24×7.
Há consultas com médicos, psicólogos e profissionais de muitas áreas online.
Não abraçamos os amigos mas podemos vê-los pelas telas.
Sentimos saudades dos encontros, mas podemos tomar um cafezinho, copo d’água ou taça de vinho acompanhados- mesmo à distância.
Há cursos, palestras, shows e até festas na rede.
E mesmo quem não tem acesso à ela, pode estabelecer a sua própria. Algumas pessoas passaram a morar com familiares ou amigos para ter suporte mútuo.
Aqui a sugestão é: procure ajuda porque atualmente a oferta é bastante grande e o auxílio pode diminuir a solidão, aplacar medos, tirar dúvidas, permitir o compartilhamento, desafogar o peito e, não menos importante, nos distrair e divertir.
Saúde e serenidade para todos nós !!!