Saldo do isolamento até aqui: gratidão, reconhecimento e satisfação.

(De: Saúde mental na pandemia – 66)

Encontrei recentemente um artigo de Abril de 2020 sobre a Pandemia, levantando a possibilidade de vir a ser ainda mais grave e longa, e a angústia de não haver previsão de vacinas ou medicamentos que combatessem o vírus.

Era um momento de grande susto, apenas um mês após os primeiros decretos, com informações e conhecimentos escassos. Muito medo e incerteza; estávamos lidando com desconhecimento e suposições. E somado a isto, as aproximadamente 1.000 mortes no Brasil eram assustadoras.

Hoje, 12 de Julho de 2021, um dia antes de completar 1 ano e 4 meses desde as primeiras recomendações em uma 6af, 13- coincidência ou não, um clássico dos filmes de terror, temos duas visões opostas e quase surreais: quase 530 mil mortos e algumas vacinas disponíveis com aplicação e pesquisas em acelerado andamento.

Realmente, há que se ter equilíbrio para lidar com tantas diferenças: prejuízos incomensuráveis à saúde física e mental, para a economia e dinâmica das vidas de todo e qualquer cidadão e ao mesmo tempo, um horizonte nítido de saída e controle pela vacinação, junto com as medidas de segurança já comprovadas.

Ainda que em extremos opostos, ambas situações são reais: enormes problemas e soluções, tragédia e esperança. Difícil conciliar…

Até agora, este é o saldo macro: mundo virado ao avesso e luz no fim do túnel.

Passemos ao micro: nosso país, nossa realidade, nossa bolha.

Podemos pensar que em todas as nações a condução da Pandemia esteve misturada à política- e consequentemente à economia, ou vice versa. Porém, aqui no Brasil, tivemos uma situação bastante peculiar. Em nosso país isto se deu de forma ainda mais radical, reverberando até agora…

Não sendo este um espaço político, mas de temáticas ligadas à saúde mental, deixaremos estas questões para outros fóruns de debate.

A proposta é avaliar hoje, aqui e agora, a situação de cada um de nós, e isto envolve tristeza e preocupação, positivismo bem estar.

É bastante real pensar que sempre há motivos para pesar e perturbação, assim como para nos sentirmos bem e esperançosos.

Independente da Pandemia já era assim: acessando o lado negativo ou positivo, encontrariamos pontos a lamentar ou celebrar. Sempre houve, há e haverá…

Vivemos situações particulares ao longo deste período: para alguns foi concretamente avassalador e para outros que tiveram sua segurança física, psíquica e financeira assegurada, “somente” terrível emocionalmente, acompanhando tanto sofrimento em volta.

De qualquer forma, se você está lendo este texto é porque chegou até aqui, portanto deve agradecer por isto, pelos seus próximos queridos e pelos semelhantes que também tiveram esta sorte.

Entendemos de maneira muito dura que sobreviver, escapar e se manter bem é, muito além de esforço pessoal, sorte, pela qual devemos ser gratos. Não é “default”, e menos ainda, “merecimento”.

E reconhecer o quanto você, particularmente, evoluiu, superou e avançou ao longo deste tempo é fundamental. Não temos controle sobre o que nos acontece em muitos aspectos- saúde, situação política, econômica e, menos ainda, sobre o que ocorre com aqueles que amamos, mas temos o poder de decidir o que faremos a partir disso. Sofremos de doença, tristezas; temos uma perda financeira, um revés, e então agimos em alguma direção, podendo suavizar ou aumentar tal sofrimento.

As coisas acontecem. Nem sempre por nossa escolha e frequentemente sem muito controle, mas podemos agir. O Livre arbítrio é sobre decisões e ações a partir da realidade.

Se você para por um instante, reflete e percebe que, apesar de tantas instabilidades e dificuldades, conseguiu se manter equilibrado, fazer o que precisava para você mesmo, sua família e ainda pôde ajudar outra(s) pessoa(s), reconheça isso ! Traga para sua lista, literal e emocionalmente. Assim, você vai se dando conta da própria capacidade e resiliência e também comprovando a sua segurança ao enfrentar complexidades e desafios.

Por mais estranho que pareça, muitos dos nossos temores e ansiedades vêm da ideia de que não conseguiremos superar certas adversidades, portanto contabilizar feitos ajuda nesta desconstrução do medo e confirmação de força.

E, por fim, satisfação. Estar em bons termos com você mesmo, sentindo-se bem na própria pele.

Isto quer dizer “perfeito” ou “tudo resolvido”? Não, porque nenhum dos dois existe, mas apenas, suficientemente satisfeito até agora.

Perceber que você está bem, dentro da realidade e possibilidades. É uma constatação neste momento e você continuará caminhando em direção ao resultado que deseja.

Entendendo que, teoricamente, não há limites para o bom e o ruim- sempre pode melhorar e sempre pode piorar, cabe somente a cada um determinar aquele momento em que dizemos à nós mesmos: Caminhei bastante bem até aqui. Reconheço, me orgulho disso e não pretendo parar aqui; há um longo caminho que desejo percorrer com determinação, perseverança e auto compaixão.

Neste ponto de inflexão, é bem vinda uma avaliação pessoal, honesta e sincera a partir de sua realidade. E será muito melhor se puder valorizar, ser grato pelo que tem e reconhecer o que conquistou, se sentindo satisfeito pelas conquistas.

 

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