Sabedoria

(De: Saúde mental na pandemia – 69)

Pensamos em sabedoria como instrução, conhecimento, erudição, cultura, sapiência, educação, proficiência.

São, sem dúvida, características do saber, mas não as únicas e definitivas.

Podemos dominar conhecimentos teóricos de matemática, história, geografia, física, economia; ter QIs altos, fluência em algumas línguas estrangeiras.

Isto é valoroso e merece reconhecimento. Também é certo que tais domínios caracterizam sabedoria, mas há outros pontos importantes, especialmente neste momento.

Como se diz, quanto mais estudamos, mais nos damos conta do quão ignorantes somos. Ou seja, os verdadeiros sábios são (realisticamente) humildes para entender que ainda sabem pouco…

Religiões, filosofias diversas e diferentes propostas de vida- enfocando especificamente o bem estar, trazem outras definições de sabedoria.

Aqui se trata de buscar maneiras de lidar com as complexidades e alegrias da existência de maneira leve e fluida, onde a aceitação do que ocorre, o acolhimento de nossas emoções e sentimentos, o entendimento e eventual ressignificação dos acontecimentos, a auto compaixão e a empatia, focando no bem estar e em estar bem com nós mesmos, com os que nos cercam e com o universo, são pontos fundamentais.

A temperança, o bom senso, a habilidade e disponibilidade para a escuta do que o outro diz (e não apenas o eco de nosssos próprios pensamentos e crenças), a capacidade de se abrir para novas ideias, argumentar e, eventualmente até mudar de ideia, adquirindo uma nova visão sobre um mesmo assunto, são sinais de sabedoria.

Com a disseminação da Covid mundo afora fomos todos sacudidos em uma mistura de liquidificador com montanha russa. Chacoalhamos por dentro e por fora. Em seu mundo particular, cada um teve as próprias experiências e vivências. Concretamente trágicas ou de forma mais subjetiva, foram assustadoras e ameaçadoras e entendemos que somente a sabedoria cognitiva não daria conta do desafio à frente.

Aprendemos a partir de dificuldades. Quando tudo dá certo, em ambientes onde há disponibilidade, recursos e condições favoráveis, tudo flui de maneira orgânica e suave. O desafio é quando isto não ocorre, e então temos que nos virar, dar um jeito, “tirar as calças pela cabeça” para fazer acontecer e dar certo.

Muito mais difícil, mas com maiores chances de aprender coisas novas e adquirir sabedoria.

Quando lidamos com o desconhecido, ameaças e incertezas, nossos recursos internos, criatividade e resiliência são recrutados para fazer frente a tantos desafios.

Portanto, sabedoria não se trata apenas de quanto conhecimento, informação, estudo ou saber alguém detenha, mas do bom senso, humildade e abertura que se tenha para lidar consigo mesmo em primeiro lugar, com os demais, e com a realidade que nos cerca.

Que tal pensarmos em definir a sabedoria como consciência do pouco que sabemos, abertura para receber ideias diferentes das nossas, humildade para aceitar que podemos estar equivocados, entendimento que nossos conhecimentos não controlam a realidade e, principalmente, a certeza que vai passar ?

Sejamos sábios.

 

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