SAÚDE MENTAL
Saúde mental é um tema delicado.
Carregado de conceitos distorcidos e de preconceitos- que são também grandes distorções, o sofrimento emocional e psíquico tende a ser varrido para debaixo do tapete.
Detectamos problemas de forma imediata e clara quando os exergamos. Literalmente.
Uma febre, desmaio, ou exame alterado, não traz questionamentos. Ninguém te diz:
“Bobagem esse negócio de diabetes ! Não complique sua vida com dietas e medicação!”
“Saia logo de casa e vá fazer um exercício que a dor de garganta passa !”
Mas, questões mais subjetivas como depressão, compulsões, transtornos, são muitas vezes pouco aparentes, quase “invisíveis”.
E então, podem te dizer:
“Vai tomar remédio pra quê ?!? É pesado e só serve para malucos !!”
“Esse negócio de não querer sair da cama se resolve levantando e encarando!”
“Você não para de comer desse jeito porque não tem força de vontade !”
Mesmo agora que a saúde física, boa alimentação, práticas como yoga, meditação e atividades mais ligadas ao bem estar emocional são valorizadas, os cuidados específicos com a saúde mental continuam alvo de preconceitos.
(O que é bastante estranho- como se corpo e mente fossem instâncias separadas, ou talvez as questões mentais somente para aqueles “muito perturbados” e não para todos nós.)
Emoções, sentimentos, pensamentos, ideias, reações, cognição e subjetividade fazem parte do funcionamento mental.
As emoções são primitivas. Alguns estudiosos as classificam em 5 principais, sendo basicamente: medo, raiva, alegria, tristeza e nojo.
São reações do cérebro à estímulos ambientais; o perigo nos causa medo, uma agressão provoca a raiva, etc.
Ações e reações hormonais automáticas, ligadas essencialmente à nossa sobrevivência, mas que também podem ser ativadas pelas lembranças e pensamentos.
São instantâneas e facilmente identificáveis.
Já o sentimento- resultado de uma experiência emocional às vezes não muito clara, pode gerar angústia e sofrimento. Muitas vezes sentimos um desconforto ou incômodo que não conseguimos nomear ou entender.
Os pensamentos, assim como as reações, estão ligados ao conjunto de crenças, cultura e peculiaridades de nossa própria natureza e ambiente.
E existem ainda os pontos fortes e vulnerabilidades de cada um, que atuam em todas estas instâncias.
É uma “conversa”: emoções geram sentimentos, pensamentos e ações que provocam novas emoções ou as exacerbam. Em circularidade que nos faz agir e reagir em retroalimentação.
O cérebro- “caixinha” que abriga conexões milimetricas- é altamente complexo e o funcionamento mental nos distingue de outros seres por capacitar reflexão, cognição e outras funções tremendamente sofisticadas.
Entretanto, pode ser um ponto vulnerável para determinadas pessoas que sofrem com seus próprios sentimentos, pensamentos, ações ou lembranças.
Agora, com a tragédia da pandemia e suas consequências, ficou clara a importância de outros cuidados, além daqueles com a saúde física e imunidade.
Trancados (como o resto do mundo) há meses, conseguimos dimensionar a relevância de ter e manter boa saúde mental.
Nos fechamos em casa, guardamos a chave na gaveta e nos deparamos com…nós mesmos.
E então vemos como anda a saúde mental: o que temos de positivo, alegre e tranquilo, e que nos é mais difícil e demanda trabalho.
Neste momento de tanta instabilidade e desafios (muitos deles à nossa mente), precisamos ter atenção.
Primeiramente à realidade; entendendo que determinados pensamentos, emoções e reações são compatíveis com o que estamos vivendo, oscilar eventualmente é estar em dia com o que se passa.
Auto compreensão e (auto) empatia.
Aprender a reconhecer e modular nossas emoções quando escassas ou excessivas e elaborar sentimentos, pensamentos ou lembranças que trazem sofrimento é muito importante.
Buscar o autoconhecimento, alguma ajuda quando necessário e acolhimento, sempre.
Os cuidados com nossa “alimentação mental” também são muito importantes:
Aquilo que fazemos frequente e repetidamente nos faz bem? Nossos pensamentos nos impulsionam em direção positiva?
Como lidamos com nossas emoções, sentimentos e reações? Os percebemos em sintonia?
O que andamos realizando/consumindo e mantendo para uma boa saúde mental?
Provavelmente, não teremos todas as perguntas acima respondidas de forma positiva e proativa.
São pontos de reflexão e de percepção sobre como anda nossa mente.
Assim poderemos procurar conexões e ocupações que nos tragam mais bem estar e alcançar mais saúde e equilíbrio.
(De: Saúde mental na pandemia- 45)